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sábado, 9 de março de 2013

CONCLAVE

Cardeais querem "choque de gestão" na Igreja

Não se espera que o novo papa rompa com a visão da Igreja Católica sobre o divórcio, o aborto ou relações entre pessoas de mesmo sexo. Mas o tom da discussão entre os cardeais às vésperas do conclave é de mudança, segundo vaticanistas.

"Os cardeais estão descontentes com a administração da igreja. O Vaticano está em meio a muitos escândalos, como Vatileaks (documentos confidenciais do Vaticano vazados à imprensa) e a recente renúncia do cadeal escocês (Keith O'Brien, que admitiu ter assediado sexualmente jovens padres)", disse o vaticanista americano Robert Mickens, em entrevista à BBC Brasil.

Escolha do novo papa

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Em Roma acompanhando o conclave, o autor do livro "The Vatican Implosion" (A Implosão do Vaticano) diz que neste momento os cardeais ainda buscam "o candidato certo".

O anúncio do Vaticano de que o Conclave terá início na próxima terça-feira, 12, se deu em um dia de garoa e céu encoberto em Roma. Dentro do Vaticano, na chamada Congregação Geral, o tempo parece ter clareado, e haveria transparência nas discussões, segundo relatos da reunião vazados à impresa italiana.

A pressão é por uma reforma na Cúria. O corpo administrativo da igreja foi, nos últimos tempos, permeado por escândalos de ordem financeira e sexual. A perda de controle da situação teria motivado a renúncia de Bento 16.

"A discussão sobre tudo isso foi franca, embora fraterna", relatou o jornal La Stampa, sobre a reunião de sexta-feira. "Vários cardeais de peso têm abordado a questão sem rodeios, pedindo informações sobre o Vatileaks, falando sobre a necessidade de uma mudança de direção na gestão da Cúria e do Secretário de Estado desde o último período".

Segundo o autor do texto, o vaticanista Andrea Tornielli, quem quer que seja o eleito, o novo papa não poderá ignorar a pressão de reforma, mesmo que seja um candidato ligado aos cardeais da atual Cúria, as quais não interessaria as reformas.

Quanto tempo durará o conclave?

"Será um conclave rápido", arrisca o vaticanista Giacomo Galeazzi, em conversa com a BBC Brasil.

"Depois de tanto escândalo, a Igreja vai querer mostrar união e os cardeais vão tentar escolher um papa o mais rápido possível", disse.

A opinião de Galeazzi, no entanto, não é consensual.

Robert Mickens diz que "será um conclave mais longo do que o últimos". "Não há candidatos realmente favoritos. Eles levarão tempo para chegar a um nome, em meio às divisões entre os cardeais próximos à Curia e os que querem reforma", disse.

O conclave que elegeu Bento 16 durou apenas dois dias, mas à ocasião o então cardeal Joseph Ratzinger exercia grande liderança entre seus pares e era visto como um dos favoritos.

A expectativa também era de um papado curto, após três décadas de João Paulo 2 no poder. O contexto agora é diferente.

O certo, no entanto, é que a duração do conclave ou o nome do papa são apenas especulações.

Os dois vaticanistas ouvidos pela reportagem dizem que Dom Odilo Scherer, de São Paulo, é um candidato com grande potencial.

O cardeal brasileiro é membro do comitê do IOR (Instituto de Obras da Religião), o nome oficial do Banco Vaticano. Ele teria trânsito entre a Cúria e é latino-americano, com ascendência alemã.

O jornal "La Repubblica" publicou artigo dizendo que neste momento, no entanto, o favorito entre os cardeais é Angelo Scola, arcebispo de Milão.