Há tempos, escrevi um artigo sobre o arrebatamento da igreja sob a ótica
pré-tribulacionista (link aqui).
Lembro-me que recebi nos comentários do artigo, contestações acerca da
posição da igreja ser tirada deste mundo antes da grande tribulação, e
um dos que lá comentaram –
atribuíram à posição pré-tribulação um tratamento de engodo escatológico.
Bom, respeito às opiniões divergentes, mas apresento as razões bíblicas
e interpretativas de nossa corrente. A grande tribulação deverá se
iniciar com a manifestação do Anticristo (ou de seu governo) e provocar o
consequente arrebatamento da igreja (2 Ts 2:3, 4).
Sugiro que você pesquise sobre o termo “dispensacionalismo”
afim de entender minha linha de interpretação. De fato, a interpretação
dispensacionalista no que diz respeito ao arrebatamento da igreja é
aparentemente a mais complexa e ao mesmo tempo a mais literal; mas nem
por isso, desconexa e infundada (1 Ts 4.13-18). Pra começar, parece existir um objetivo bem claro de Deus quanto à grande tribulação (Ap 6 a 19):
a conversão dos Judeus (Zc 12:10; Ap 12),
e juízo sobre os pecadores
(Is 13:9-18). A grande tribulação é referenciada várias vezes no A.T
como o “Dia do Senhor” (Am 5:18-20; Jl 1:15; Sf 1:14). É tida
profeticamente como o tempo da angústia de Jacó ou Israel (Jr 30.7). O
dia do Senhor em sua aplicação escatológica está sempre relacionado ao
juízo, ao tratamento com os ímpios e escuridão em todos os sentidos.
Esses quadros, nada tem a ver com as promessas de Jesus para seus
seguidores (Jo 14.1-3).
As posições da vinda de Cristo no
fim da tribulação, precisam considerar a atualidade dos apelos bíblicos
para a iminente volta de Jesus para buscar sua igreja (Ap 3:11; 22:12, 20; Hb 10:37; Tg 5:9).
A história sagrada ensina que em todos os tempos de juízos
Divinos sobre civilizações e populações inteiras, Deus sempre livrou
seus fiéis. Livrou a Noé e sua família do dilúvio (Gn 6:17,18);
livrou a Ló da destruição de Sodoma (Gn 19:17-22); livrou a Israel das
dez pragas que atribularam ao Egito (Ex 12.12,13); Livrou Jerusalém da
invasão da Assíria (2 Re 19:32-34) e prometeu livrar sua igreja
militante e fiel da hora da tentação que há de vir sobre toda a terra
(Ap: 3.10). O arrebatamento antes da grande tribulação será a forma de
Cristo Jesus livrar sua noiva das agruras daquela última semana
profética (Dn 9:24-27); galardoar os crentes por meio de suas obras (2
Co 5:10) e celebrar as bodas de seu figurado relacionamento com a sua
igreja (Mt 26:29; Ap 19:7-9).
A idéia em torno do termo original “arrebatamento” denota em
rapto, em evento abrupto, não anunciado ou alardeado; diferente das
citações de Ap 1.7; 19:11-16), que são totalmente públicos e
visíveis e referem-se à manifestação de Jesus em Glória; evento ligado
ao fim da grande tribulação – e essa realização é diferente do
arrebatamento. A concatenação bíblica para a primeira fase da segunda
vinda de Cristo (1 Ts 4.13-18), parece ter sentido acontecer na abertura
do parêntese dispensacional entre graça e milênio, ou seja: na abertura
da grande tribulação da qual a igreja de Cristo não passará – pelo
menos na visão pré-tribulacionista (Ap 3.10; 1 Ts 5.9).
Os indícios apocalípticos da pregação e da salvação durante a
tribulação parecem não indicar a presença da Igreja da era da graça
pregando lá, mas sim de um grupo de 144 mil Israelitas (Ap 7:4-8;
14:1-5). O Evangelho do Reino de Mateus 24:14, que também foi
pregado por nosso Salvador (Lc 4:43) terá sua continuidade na grande
tribulação antes do julgamento das nações e instauração do milênio na
terra (Mt 25:31-34; Ap 20:4-6).
A pregação do Evangelho do Reino
no contexto apocalíptico parece não fazer alusão a uma missão cristã, e
sim ao citado grupo de pregadores israelitas escolhidos e a princípio
dirigidos aos judeus (Mt 10:23). A evangelização mundial parece
alcançar seu ápice na pregação do Evangelho Eterno (Ap 14: 6,7). Vale
ressaltar que mesmo assim, a igreja de Cristo nesta dispensação, recebeu
a incumbência de evangelizar o mundo inteiro e não pode negligenciar
sua missão tarefa (Mc 16.15; Mt 28:18-20).
Pra terminar, quero dizer que a última trombeta citada por
Paulo em 1 Coríntios 15:52, nada tem a ver com última trombeta de
Apocalipse 11:15, por razões claras: as menções retratam
cenários escatológicos distintos: a primeira a convocação dos salvos
vivos e mortos para o arrebatamento e a segunda para o anúncio do reino
eterno de Cristo. Ademais, em João 14:1-3, Atos 1:11, 1 Coríntios
15:52-58, Filipenses 3:20, Colossenses 3:4, entre outras passagens, os
apóstolos ensinaram que Cristo poderia retornar a qualquer momento. Sem
tal expectativa, a Igreja perde o foco espiritual e tem a tendência de
se tornar morta. Eu acredito num tipo de “igreja” ou de “salvos mortos
na tribulação” (Ap 7:13-16), mas não sendo esta igreja promotora do
Evangelho da Graça (Ef 3.5-6; 2:8).