Pianista de 86 anos precisa de um novo piano para continuar tocando
Jerusa Mustafa dedicou sua vida ao piano. Agora seu instrumento está se deteriorando
Dos
86 anos de idade de Jerusa Mustafa, 80 foram dedicados ao piano.
Conhecida por acompanhar o famoso balé Rezende e realizar recitais no
Teatro Amazonas, a pianista agora tem dificuldades para manter seus
estudos devido o avançado desgaste de seu instrumento.
O
piano que acompanha Jerusa há 30 anos recebeu manutenção pela última
vez há mais de um ano e já está desafinado, com notas mudas e o pé
esquerdo quebrado. “Eu costumo estudar todos os dias, mas parei desde
que o pé quebrou para evitar acidentes”, diz a pianista.
Jerusa
Mustafa nasceu em 19 de fevereiro de 1926. Filha de um sírio com uma
judia de origem francesa, recebeu o nome em homenagem a Jerusalém,
cidade sagrada para judeus, árabes e cristãos.
A
pianista já mostrava inclinação para a música desde os 5 anos de idade,
quando brincava de tocar piano com as partituras de sua irmã mais
velha. Percebendo o interesse, seu pai a matriculou na Escola Santa
Terezinha do Menino Jesus, um conservatório particular que se localizava
na rua Lima Bacuri, Centro. Lá ela se formou em Piano Clássico, aos 19
anos de idade.
Em 1945, começou a dar
aula de canto para crianças no extinto conservatório Joaquim Franco,
então administrado pelo governo estadual. Quando a escola se tornou
federal, Jerusa fez um novo concurso público. Durante a seleção, deu seu
primeiro recital no Teatro Amazonas, onde se apresentaria outras quatro
vezes.
O balé Rezende
Mas
o ponto alto de sua carreira foi quando o professor de balé clássico
José Rezende visitou o conservatório e pediu indicação de um pianista
formado que pudesse acompanhar a sua academia. Jerusa era a única que se
encaixava no perfil e assumiu o posto de pianista da Academia de Ballet
Clássico José Rezende no dia 25 de setembro de 1975. Era o início de
uma parceria que iria durar 21 anos. “Era uma época muito agradável. Nós
éramos muito amigos e amávamos trabalhar na academia”, conta ela.
O
bailarino, que chegou a dançar na sala Pleyel, sede da Orquestra de
Paris, faleceu em fevereiro do ano passado, um dia antes do aniversário
de sua companheira de tantos anos. Partiu chamando o seu nome.
Hoje
Jerusa vive na mesma casa em que morou com sua família desde os 6 anos
de idade. É cuidada por sua sobrinha de criação, Gorete, que também
cuidou de sua irmã e sua mãe até a morte. Solteira, diz que se casou com
o piano.
Apesar das doenças da
idade, Jerusa se lembra de datas e de acontecimentos como se lesse uma
partitura, mas já não pode praticar o piano como fez durante toda a
vida. “Eu sinto muita falta de tocar o piano. É o que eu fiz a vida toda
e me ajuda a lembrar os bons momentos que passaram”, lamenta.
A história do piano
A história do instrumento que acompanha Jerusa há 30 anos explica o apreço que a pianista tem por ele.
No
fim da década de 1970, sua família passou por dificuldades financeiras e
teve que vender o piano que ela usava. Sem ter como estudar em casa,
Jerusa utilizava os que pertenciam à antiga Sociedade de Professores.
Com
o objetivo de arrecadar o dinheiro necessário para comprar um piano
novo, o amigo José Rezende realizou um recital no Teatro Amazonas com
bailarinos vindos do Rio de Janeiro. Porém, os fundos levantados não
foram suficientes. “Uma das alunas da academia era filha do então chefe
de gabinete do governador José Lindoso. Eu conversei com ele e consegui
uma reunião com o governador”, conta Jerusa.
No
encontro, o governador disse à instrumentista que poderia ajudar, mas
para justificar o gasto ela teria que dar um recital no Teatro Amazonas.
“Eu estudava aos domingos no piano do Teatro para me preparar. O
recital aconteceu no dia 10 de maio de 1981, e no dia 19 o piano chegou
em casa”, relembra. “Eu pulava de tanta felicidade”.
*O
portalacritica.com está realizando uma campanha para conseguir um novo
piano para Jerusa. Quem tiver interesse em contribuir,pode entrar em
contato por meio de nossa página no Facebook:fb.com/PortalA-Critica
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