Morre Nelson Mandela, herói da luta pela igualdade racial
Ex-presidente sul-africano liderou a luta contra o regime do apartheid em seu 
Comentário: Lembramos também do Pastor Martin Luther King, que lutava sempre pela igualdade racial aonde pudesse viver em harmonia, brancos e negros.  
Morreu nesta quinta-feira (5), aos 95 anos, o ex-presidente da África 
do Sul Nelson Mandela, símbolo da luta contra a discriminação racial. 
Mandela combateu o regime de segregação, conhecido como apartheid, que 
perdurou de 1948 a 1994 em seu país e impôs duras restrições aos 
direitos da maioria negra. A luta de Mandela o tornou um líder admirado e
 respeitado em todo o mundo.  
 O herói da luta antiapartheid, morreu em sua residência de 
Johannesburg, informou o presidente sul-africano Jacob Zuma em mensagem à
 Nação.
 Nelson Mandela "faleceu", declarou Zuma. "Nosso querido Madiba terá 
funerais de Estado" e as bandeiras serão colocadas a meio pau a partir 
desta sexta-feira e até seus funerais.
 O ex-líder já havia sido levado ao hospital pelo menos seis vezes em 
apenas dois anos. Ele deixou a instituição médica em setembro após 
passar 87 dias internado para tratar uma infecção recorrente nos 
pulmões.
 Em abril, ele chegou a ficar dez dias hospitalizado por causa de uma 
pneumonia. Antes, em março, o ex-presidente sul-africano já havia sido 
internado para ser submetido a exames de rotina.
 Meses antes, em dezembro de 2012, ele foi operado por causa de cálculos
 na vesícula, mas acabou passando mais de duas semanas no hospital 
devido a complicações respiratórias.
 
África do Sul se despede de Mandela convivendo com racismo, desigualdade e violência
 Relembre a trajetória de Nelson Mandela, símbolo da luta contra a segregação na África do Sul
 Seus problemas pulmonares se devem, provavelmente, às sequelas da 
tuberculose contraída na prisão da ilha de Robben, onde Mandela passou 
18 dos 27 anos de prisão sob o regime racista do apartheid.
 Libertado em 1990, Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1993 por 
sua atuação nas negociações de paz que instalaram uma democracia 
multirracial na África do Sul, ao lado do último presidente do regime do
 apartheid, Frederik de Klerk.
 Mandela foi o primeiro presidente negro de seu país (1994-1999), 
tornando-se um líder de consenso que soube conquistar o coração da 
minoria branca.
 Sua última aparição pública aconteceu na cerimônia de encerramento da Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul.
 Madiba, como era conhecido em seu país, faria 95 anos no dia 18 de julho.
 
De Estado racista a país democrático
 Nelson Rolihlahla Mandela era um homem simples, que gostava de assistir
 ao pôr-do-sol sul-africano enquanto escutava Handel e Tchaikovsky, seus
 compositores favoritos. Mas, durante 27 anos, ele viveu atrás das 
grades, privado da luz do sol e das músicas que tanto apreciava.
 Advogado, líder rebelde e ativista pelos direitos da maioria negra, foi
 preso em novembro de 1962. Permaneceu na cadeia até fevereiro de 1990. 
Nesse período, recusou ofertas de revisão de sua pena e de liberdade 
condicional em troca de concessões ao governo que combatia.
 Foi na prisão que Mandela tornou-se o principal ícone da luta contra a 
discriminação racial imposta pelo apartheid na África do Sul. 
Transformou a cadeia em um centro de aprendizado político para os 
colegas detentos, conquistou a simpatia de guardas e carcereiros e 
conseguiu, ao longo dos anos, angariar apoio internacional para sua 
causa.
 Libertado em 1990, Mandela conduziu as negociações para transformar o 
país em uma democracia multirracial — trabalho pelo qual recebeu o 
Prêmio Nobel da Paz, em 1993.
 Já vitorioso e empossado presidente, em 1994, conduziu de forma 
pacífica as mudanças que transformaram o Estado racista da África do Sul
 em um país democrático.
 Casou-se três vezes, a última delas aos 80 anos, com Graça Machel, 
viúva de Samora Machel, ex-presidente de Moçambique e aliado ao CNA 
(Congresso Nacional Africano, partido de Mandela). Também foi casado por
 13 anos com Evelyn Ntoko Mase, e por 38 anos com Winnie Madikizela, ou 
Winnie Mandela.
 
O guarda noturno vira advogado 
 Nelson Mandela nasceu em 18 de julho de 1918, no vilarejo de Mvezu, na 
região de Transkei. Filho único de Nosekeni Fanny e Henry Gadla Mandela —
 conselheiro do chefe supremo do povo thembu, Jongintaba Dalindyebo —, 
Mandela foi o primeiro de sua família a frequentar a escola.
 Matriculou-se em 1939 na Universidade Fort Hare College, onde conheceu o
 futuro revolucionário Oliver Tambo (1917-1993), de quem se tornou um 
grande amigo.
 Ambos foram expulsos da faculdade em 1940 por participar de uma greve. Mandela iria concluir o curso por correspondência.
 Ao retornar à tribo, Mandela desentendeu-se com o chefe Dalindyebo, que já havia arranjado uma noiva para que ele se casasse.
 Partiu para Johannesburgo, onde trabalhou como guarda noturno em uma 
mina de ouro e depois em uma imobiliária. Em 1942, filiou-se ao CNA 
(Congresso Nacional Africano), movimento que lutava contra o apartheid, e
 matriculou-se em direito na Universidade de Witwatersrand, em 1943.
 No auge da Segunda Guerra Mundial, passou a integrar, junto com Tambo, 
um grupo de 60 jovens sul-africanos sob a liderança de Antom Lembebe 
(1914-1947). O grupo queria transformar o CNA em um movimento de massa e
 romper com a política legalista e pacífica da velha guarda da 
organização, que não vinha dando resultados.
 Desse trabalho nasceu a Liga da Juventude do CNA, em 1944. A disciplina
 e a capacidade de liderança de Mandela logo impressionaram os colegas, e
 ele foi eleito secretário da Liga da Juventude, em 1947.
 Sob sua liderança, o grupo conseguiu ganhar espaço na estrutura do CNA.
 Após a vitória dos africânderes, que apoiavam o sistema de segregação 
racial, na eleição de 1948, Mandela conseguiu fazer com que o Programa 
de Ação proposto pela liga — e que propunha boicotes, greves e 
desobediência civil — fosse adotado como uma política oficial da 
organização.
 
O massacre de Sharpeville e a luta armada 
 Em 1952, Nelson Mandela correu o país para liderar a Campanha em 
Desafio às Leis Injustas, que angariou o apoio de milhares de pessoas 
comuns para o CNA e culminou com uma desobediência civil em massa.
 Como retaliação, o governo o proibiu de participar de atos públicos e 
de sair de Johannesburgo por seis meses. Neste mesmo ano, Mandela e 
Tambo abriram o primeiro escritório de advogados negros da África do 
Sul.
 Nessa época, Mandela organizou os membros do CNA em uma rede nacional 
clandestina, prevendo que o grupo entraria na clandestinidade. 
Participou de protestos pacíficos até 1961, quando aderiu à luta armada.
 O marco para a mudança foi o massacre de Sharpeville, em 1960, quando a
 polícia atirou em manifestantes negros que protestavam contra o regime 
do apartheid, matando 69 pessoas.
 O CNA entrou logo depois na clandestinidade, como previra Mandela, que 
chegou a ser detido por alguns meses. Quando foi solto, ele fundou o 
Umkhonto we Sizwe (MK), braço armado do CNA. Em 1962, deixou o país para
 um treinamento militar na Argélia.
 Caçado pelas autoridades, foi preso novamente em agosto daquele ano. 
Dessa vez, escapou da pena de morte por enforcamento e foi condenado à 
prisão perpétua em uma penitenciária perto da cidade do Cabo.
 
Da prisão à Presidência foram quase três décadas 
 Mandela só seria libertado 27 anos mais tarde a mando do então 
presidente sul-africano Frederik Willem de Klerk, após uma intensa 
campanha do CNA e de uma grande pressão internacional.
 Em liberdade, voltou a ser protagonista na luta contra a segregação 
racial. Sua liderança foi fundamental na luta final contra o apartheid 
na África do Sul.
 A vitória na luta contra as leis segregacionistas em seu país lhe 
garantiu, em 1993, o Prêmio Nobel da Paz, junto com De Klerk. Em 1994, 
Mandela foi eleito presidente da África do Sul nas primeiras eleições em
 que os negros puderam votar desde o fim do apartheid.
 Em seu mandato, que durou até junho de 1999, conseguiu adquirir 
respeito da comunidade internacional pelo seu regime de conciliação. As 
práticas racistas foram proibidas de uma vez por todas em sua 
administração.
 
Depois de presidente, Mandela voltou a ser militante
 Mesmo após o fim do mandato, Mandela continuou atuando como militante. 
Em 2003, chegou a fazer pronunciamentos contra a política externa do 
então presidente dos EUA, George W. Bush.
 Ainda se engajou em campanha para arrecadar recursos para combater a 
Aids, que foi denominada "46664", seu número de identificação na prisão.
 Em 2005, revelaria ao mundo que a doença matara seu filho Makgatho, em 6
 de janeiro daquele ano. No ano seguinte, aos 85 anos, anunciou que 
sairia da vida pública por problemas de saúde.
 Continuou recebendo prêmios, como o concedido pela Anistia Internacional, de Embaixador de Consciência, em 2006.
 Em 2010, com a saúde debilitada e após a morte de sua bisneta, ficou 
ausente durante quase todos os eventos relacionados à Copa do Mundo em 
seu país. Mas apareceu na festa de encerramento. Carregado em um 
carrinho de golfe, foi aplaudido de pé pelo público, que lotou o famoso 
estádio Soccer City.
 Ao morrer, era considerado um herói para negros e brancos de seu país e um símbolo da igualdade racial em todo o mundo.