Descobertas da arqueologia indicam que a maior parte das escrituras sagradas não passa de lenda

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A disputa entre ciência e religião pela 
posse da verdade é antiga. No Ocidente, começou no século XVI, quando 
Galileu defendeu a tese de que a Terra não era o centro do Universo. 
Essa primeira batalha foi vencida pela Igreja, que obrigou Galileu a 
negar suas idéias para não ser queimado vivo. Mas o futuro dessa disputa
 seria diferente: pouco a pouco, a religião perdeu a autoridade para 
explicar o mundo. Quando, no século XIX, Darwin lançou sua teoria sobre a
 evolução das espécies, contra a idéia da criação divina, o fosso entre 
ciência e religião já era intransponível. Nas últimas décadas, a Bíblia 
passou a ser alvo de ciências como a filologia (o estudo da língua e dos
 documentos escritos), a arqueologia e a história. E o que os cientistas
 estão provando é que o livro mais importante da história é, em sua 
maior parte, uma coleção de mitos, lendas e propaganda religiosa.
Primeiro livro impresso por Guttemberg, 
no século XV, e o mais vendido da história, a Bíblia reúne escritos 
fundamentais para as três grandes religiões monoteístas – Judaísmo, 
Cristianismo e Islamismo. Na verdade, a Bíblia é uma biblioteca de 73 
livros escritos em momentos históricos diferentes. O Velho Testamento, 
aceito como sagrado por judeus, cristãos e muçulmanos, é composto de 46 
livros que pretendem resumir a história do povo hebreu desde o suposto 
chamamento de Abraão por Deus, que teria ocorrido por volta de 1850 
a.C., até a conquista da Palestina pelos exércitos de Alexandre Magno e 
as revoltas do povo judeu contra o domínio grego, por volta de 300 a.C. 
Os 27 livros do Novo Testamento abarcam um período bem menor: cerca de 
70 anos que vão do nascimento de Jesus à destruição de Jerusalém pelos 
romanos em 70 d.C.
O coração do Velho Testamento são os 
primeiros cinco livros, que compõem a Torá do Judaísmo (a palavra 
significa “lei”, em hebraico). Em grego, o conjunto desses livros 
recebeu o nome de Pentateuco (“cinco livros”). São considerados os 
textos “históricos” da Bíblia, porque pretendem contar o que ocorreu 
desde o início dos tempos, inclusive a criação do homem – que, segundo 
alguns teólogos, teria ocorrido em 5000 a.C. O Pentateuco inclui o 
Gênesis (o “livro das origens”, que narra a criação do mundo e do homem 
até o dilúvio universal), o Êxodo (que narra a saída dos judeus do Egito
 sob a liderança de Moisés) e os Números (que contam a longa travessia 
dos judeus pelo deserto até a chegada a Canaã, a terra prometida).
Das três ciências que estudam a Bíblia, a
 arqueologia tem se mostrado a mais promissora. “Ela é a única que 
fornece dados novos”, diz o arqueólogo israelense Israel Finkelstein, 
diretor do Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv e autor 
do livro The Bible Unearthed (A Bíblia desenterrada, inédito no Brasil),
 publicado no ano passado. A obra causou um choque em estudiosos de 
arqueologia bíblica, porque reduz os relatos do Antigo Testamento a uma 
coleção de lendas inventadas a partir do século VII a.C.
O Gênesis, por exemplo, é visto como uma
 epopéia literária. O mesmo vale para as conquistas de David e as 
descrições do império de Salomão.
A ciência também analisa os textos do 
Novo Testamento, embora o campo de batalha aqui esteja muito mais na 
filologia. A arqueologia, nesse caso, serve mais para compor um cenário 
para os fatos do que para resolver contendas entre as várias teorias. O 
núcleo central do Novo Testamento são os quatro evangelhos. A palavra 
evangelho significa “boa nova” e a intenção desses textos é clara: 
propagandear o Cristianismo. Três deles (Mateus, Marcos e Lucas) são 
chamados sinóticos, o que pode ser traduzido como “com o mesmo ponto de 
vista”. Eles contam a mesma história, o que seria uma prova de que os 
fatos realmente aconteceram. Não é tão simples. O problema central do 
Novo Testamento é que seus textos não foram escritos pelos evangelistas 
em pessoa, como muita gente supõe, mas por seus seguidores, entre os 
anos 60 e 70, décadas depois da morte de Jesus, quando as versões 
estavam contaminadas pela fé e por disputas religiosas.
Nessa época, os cristãos estavam sendo 
perseguidos e mortos pelos romanos, e alguns dos primeiros apóstolos, 
depois de se separarem para levar a “boa nova” ao resto do mundo, 
estavam velhos e doentes. Havia, portanto, o perigo de que a mensagem 
cristã caísse no esquecimento se não fosse colocada no papel. Marcos foi
 o primeiro a fazer isso, e seus textos serviram de base para os relatos
 de Mateus e Lucas, que aproveitaram para tirar do texto anterior 
algumas situações que lhes pareceram heresias. “Em Marcos, Jesus é uma 
figura estranha que precisa fazer rituais de magia para conseguir um 
milagre”, afirma o historiador e arqueólogo André Chevitarese.
Para tentar enxergar o personagem 
histórico de Jesus através das camadas de traduções e das inúmeras 
deturpações aplicadas ao Novo Testamento, os pesquisadores voltaram-se 
para os textos que a Igreja repudiou nos primeiros séculos do 
Cristianismo. Ignorados, alguns desapareceram. Mas os fragmentos que nos
 chegaram tiveram menos intervenções da Igreja ao longo desses 2 000 
anos. Parte desses evangelhos, chamados “apócrifos” (não se sabe ao 
certo quem os escreveu), fazem parte de uma biblioteca cristã do século 
IV descoberta em 1945 em cavernas do Egito. Os evangelhos estavam 
escritos em língua copta (povo do Egito).
O fato de esses textos terem sido 
comprovadamente escritos nos primeiros séculos da era cristã não quer 
dizer que eles sejam mais autênticos ou contenham mais verdades que os 
relatos que chegaram até nós como oficiais. Pelo contrário, até. Os 
coptas, que fundariam a Igreja cristã etíope, foram considerados 
hereges, porque não aceitavam a dupla natureza de Jesus (humana e 
divina). Para eles, Jesus era apenas divino e os textos apócrifos coptas
 defendem essa versão. Mesmo assim, eles trazem pistas para elucidar os 
fatos históricos.
A tentativa de entender o Jesus 
histórico buscando relacioná-lo a uma ou outra corrente religiosa 
judaica também foi infrutífera, como ficou demonstrado no final da 
tradução dos pergaminhos do Mar Morto, anunciada recentemente. Esses 
papéis, achados por acaso em cavernas próximas do Mar Morto, em 1947, 
criaram a expectativa de que pudesse haver uma ligação entre Jesus e os 
essênios, uma corrente religiosa asceta, cujos adeptos viviam isolados 
em comunidades purificando-se à espera do messias. O fim das traduções 
indica que não há qualquer ligação direta entre Jesus e os essênios, a 
não ser a revolta comum contra a dominação romana.
O resultado é que, depois de dois 
milênios, parece impossível separar o verdadeiro do falso no Novo 
Testamento. O pesquisador Paul Johnson, autor de A História do 
Cristianismo, afirma que, se extrairmos, de tudo o que já se escreveu 
sobre Jesus, só o que tem coerência histórica e é consenso, restará um 
acontecimento quase desprovido de significado. “Esse ‘Jesus residual’ 
contava histórias, emitiu uma série de ditos sábios, foi executado em 
circunstâncias pouco claras e passou a ser, depois, celebrado em 
cerimônia por seus seguidores.”
O que sabemos com certeza é que Jesus 
foi um judeu sectário, um agitador político que ameaçava levantar os 
dois milhões de judeus da Palestina contra o exército de ocupação 
romano. Tudo o mais que se diz dele precisa da fé para ser tomado como 
verdade. Assim como aconteceu com Moisés, David e Salomão do Velho 
Testamento, a figura de Jesus sumiu na névoa religiosa.
O Dilúvio
No Gênesis, a história do dilúvio é uma 
das poucas que ainda alimenta o interesse dos cientistas, depois que os 
físicos substituíram a criação do mundo pelo Big Bang e Darwin 
substituiu Adão pelos macacos. O que intrigou os pesquisadores foi o 
fato de uma história parecida existir no texto épico babilônico de 
Gilgamesh – o que sugere que uma enchente de enormes proporções poderia 
ter acontecido no Oriente Médio e na Ásia Menor. Parte do mistério foi 
solucionado quando os filólogos conseguiram demonstrar que a narrativa 
do Gênesis é uma apropriação do mito mesopotâmico. “Não há dúvida de que
 os hebreus se inspiraram no mito de Gilgamesh para contar a história do
 dilúvio”, afirma Rafael Rodrigues da Silva, professor do Departamento 
de Teologia da PUC de São Paulo, especialista na exegese do Antigo 
Testamento.
O povo hebreu entrou em contato com o 
mito de Gilgamesh no século VI a.C. Em 598 a.C., o rei babilônico 
Nabucodonosor, depois de conquistar a Assíria, invadiu e destruiu 
Jerusalém e seu templo sagrado. No ano seguinte, os judeus foram 
deportados para a Babilônia como escravos. O chamado exílio babilônico 
durou 40 anos. Em 538 a.C., Ciro, o fundador do Império Persa, depois de
 submeter a Babilônia permitiu o retorno dos judeus à Palestina. Os 
rabinos ou “escribas” começaram a reconstruir o Templo e a reescrever o 
Gênesis para, de alguma forma, dar um sentido teológico à terrível 
experiência do exílio. Assim, a ameaça do dilúvio seria uma referência à
 planície inundável entre os rios Tigre e Eufrates, região natal de 
Nabucodonosor; os 40 dias de chuva seriam os 40 anos do exílio; e a 
aliança final de Deus com Noé, marcada pelo arco-íris, uma promessa 
divina de que os judeus jamais seriam exilados.
Solucionado o mistério do dilúvio na 
Bíblia, continua o da sua origem no texto de Gilgamesh. No final da 
década de 90, dois geólogos americanos da Universidade Columbia, Walter 
Pittman e Willian Ryan, criaram uma hipótese: por volta do ano 5600 
a.C., ao final da última era glacial, o Mar Mediterrâneo havia atingido 
seu nível mais alto e ameaçava invadir o interior da Ásia na região hoje
 ocupada pela Turquia, mais precisamente a Anatólia. Num evento 
catastrófico, o Mediterrâneo irrompeu através do Estreito de Bósforo 
(ver infográfico na página 44), dando origem ao Mar Negro como o 
conhecemos hoje. Um imenso vale de terras férteis e ocupado por um lago 
foi inundado em dois ou três dias.
Os povos que ocupavam os vales inundados
 tiveram que fugir às pressas e o mais provável é que a maioria tenha 
morrido. Os sobreviventes, porém, tinham uma história inesquecível, que 
ecoaria por milênios. Alguns deles, chamados ubaids, atravessaram as 
montanhas da Turquia e chegaram à Mesopotâmia, tornando-se os mais 
antigos ancestrais de sumérios, assírios e babilônios. Estaria aí a 
origem da narrativa de Gilgamesh. Essa teoria foi recebida por 
arqueólogos e antropólogos como fantástica demais para ser verdadeira.
No entanto, no verão de 2000, o caçador 
de tesouros submersos Robert Ballard, o mesmo que encontrou os restos do
 Titanic, levou suas poderosas sondas para analisar o fundo do Mar Negro
 nas proximidades do que deveriam ser vales de rios antes do cataclisma 
aquático. Ballard encontrou restos de construções primitivas e a análise
 da lama colhida em camadas profundas do oceano provaram que, há 7 600 
anos, ali existia um lago de água doce. A hipótese do grande dilúvio do 
Mar Negro estava provada.
O Êxodo
Não há registro arqueológico ou 
histórico da existência de Moisés ou dos fatos descritos no Êxodo. A 
libertação dos hebreus, escravizados por um faraó egípcio, foi incluída 
na Torá provavelmente no século VII a.C., por obra dos escribas do 
Templo de Jerusalém, em uma reforma social e religiosa. Para combater o 
politeísmo e o culto de imagens, que cresciam entre os judeus, os 
rabinos inventaram um novo código de leis e histórias de patriarcas 
heróicos que recebiam ensinamentos diretamente de Jeová. Tais intenções 
acabaram batizadas de “ideologia deuteronômica”, porque estão mais 
evidentes no livro Deuteronômio. A prova de que esses textos são lendas 
estaria nas inúmeras incongruências culturais e geográficas entre o 
texto e a realidade. Muitos reinos e locais citados na jornada de Moisés
 pelo deserto não existiam no século XIII a.C., quando o Êxodo teria 
ocorrido. Esses locais só viriam a existir 500 anos depois, justamente 
no período dos escribas deuteronômicos.
Também não havia um local chamado Monte 
Sinai, onde Moisés teria recebido os Dez Mandamentos. Sua localização 
atual, no Egito, foi escolhida entre os séculos IV e VI d.C., por monges
 cristãos bizantinos, porque ele oferecia uma bela vista. Já as Dez 
Pragas seriam o eco de um desastre ecológico ocorrido no Vale do Nilo 
quando tribos nômades de semitas estiveram por lá (veja infográfico na 
página 45).
Vejamos agora o caso de Abraão, o 
patriarca dos judeus. Segundo a Bíblia, ele era um comerciante nômade 
que, por volta de 1850 a.C., emigrou de Ur, na Mesopotâmia, para Canaã 
(na Palestina). Na viagem, ele e seus filhos comerciavam em caravanas de
 camelos. Mas não há registros de migrações de Ur em direção a Canaã que
 justifiquem o relato bíblico e, naquela época, os camelos ainda não 
haviam sido domesticados. Aqui também há erros geográficos: lugares 
citados na viagem de Abraão, como Hebron e Bersheba, nem existiam então.
 Hoje, a análise filológica dos textos indica que Abraão foi introduzido
 na Torá entre os séculos VIII e VII a.C. (mais de 1 000 anos após a 
suposta viagem).
Então, como surgiu o povo hebreu? Na 
verdade, hebreus e canaanitas são o mesmo povo. Por volta de 2000 a.C., 
os canaanitas viviam em povoados nas terras férteis dos vales, enquanto 
os hebreus eram nômades das montanhas. Foi o declínio das cidades 
canaanitas, acossadas por invasores no final da Idade do Bronze (300 
a.C. a 1000 a.C.), que permitiu aos hebreus ocupar os vales. Segundo a 
Bíblia, os hebreus conquistaram Canaã com a ajuda dos céus: na entrada 
de Jericó, o exército hebreu toca suas trombetas e as muralhas da cidade
 desabam, por milagre. Mas a ciência diz que Jericó nem tinha muralhas 
nessa época. A chegada dos hebreus teria sido um longo e pacífico 
processo de infiltração.
David e Salomão
Há pouca dúvida de que David e Salomão 
existiram. Mas há muita controvérsia sobre seu verdadeiro papel na 
história do povo hebreu. A Bíblia diz que a primeira unificação das 
tribos hebraicas aconteceu no reinado de Saul. Seu sucessor, David, 
organizou o Estado hebraico, eliminando adversários e preparando o 
terreno para que seu filho, Salomão, pudesse reinar sobre um vasto 
império. O período salomônico (970 a.C. a 930 a.C.) teria sido marcado 
pela construção do Templo de Jerusalém e a entronização da Arca da 
Aliança em seu altar.
Não há registros históricos ou 
arqueológicos da existência de Saul, mas a arqueologia mostra que boa 
parte dos hebreus ainda vivia em aldeias nas montanhas no período em que
 ele teria vivido (por volta de 1000 a.C.) – assim, Saul seria apenas um
 entre os muitos líderes tribais hebreus. Quanto a David, há pelos menos
 um achado arqueológico importante: em 1993 foi encontrada uma pedra de 
basalto datada do século IX a.C. com escritos que mencionam um rei 
David.
Por outro lado, não há qualquer 
evidência das conquistas de David narradas na Bíblia, como sua vitória 
sobre o gigante Golias. Ao contrário, as cidades canaanitas mencionadas 
como destruídas por seus exércitos teriam continuado sua vida 
normalmente. Na verdade, David não teria sido o grande líder que a 
Bíblia afirma. Seu papel teria sido muito menor. Ele pode ter sido o 
líder de um grupo de rebeldes que vivia nas montanhas, chamados apiru 
(palavra de onde deriva a palavra hebreu) – uma espécie de guerrilheiro 
que ameaçava as cidades do sul da Palestina. Quanto ao império 
salomônico cantado em verso e prosa na Torá hebraica, a verdade é que 
não foram achadas ruínas de arquitetura monumental em Jerusalém ou 
qualquer das outras cidades citadas na Bíblia.
O principal indício de que as conquistas
 de David e o império de Salomão são, em sua maior parte, invenções é 
que, no período em que teriam vivido, a arqueologia prova que a cultura 
canaanita (que, segundo a Bíblia, teria sido destruída) continuava viva.
 A conclusão é que David e Salomão teriam sido apenas pequenos líderes 
tribais de Judá, um Estado pobre e politicamente inexpressivo localizado
 no sul da Palestina.
Na verdade, o grande momento da história
 hebraica teria acontecido não no período salomônico, mas cerca de um 
século mais tarde. Entre 884 e 873 a.C., foi fundada Samária, a capital 
do reino de Israel, no norte da Palestina, sob a liderança do rei 
israelita Omri. Enquanto Judá permanecia pobre e esquecida no sul, os 
israelitas do norte faziam alianças com os assírios e viviam um período 
de grande desenvolvimento econômico. A arqueologia demonstrou que os 
monumentos normalmente atribuídos a Salomão foram, na verdade, erguidos 
pelos omridas. Ou seja: o primeiro grande Estado judaico não teve a 
liderança de Salomão, e sim dos reis da dinastia omrida.
Enriquecido pelos acordos comerciais com
 Assíria e Egito, o rei Ahab, filho de Omri, ordena a construção dos 
palácios de Megiddo e as muralhas de Hazor, entre outras obras. Hoje, os
 restos arqueológicos desses palácios e muralhas são o principal ponto 
de discórdia entre os arqueólogos que estudam a Torá. Muitos ainda os 
atribuem a Salomão, numa atitude muito mais de fé do que de rigor 
científico, já que as datações mais recentes indicam que Salomão nunca 
ergueu palácios.
Judá
Entender a história de Judá é 
fundamental para entender todo o Velho Testamento. Até o século VIII 
a.C., Judá era apenas uma reunião de tribos vivendo numa região 
desértica do sul da Palestina. Em 722 a.C., porém, os assírios resolvem 
conquistar as ricas planícies e cidades de Israel – o reino do norte, 
mais desenvolvido economicamente e mais culto. Judá, no sul, que não 
pareceu interessar aos assírios, pôde continuar independente, desde que 
pagasse tributos ao império assírio.
Assim, enquanto no norte acontece uma 
desintegração dos hebreus, levados para a Assíria como escravos, no sul 
eles continuam unidos em torno do Templo de Jerusalém. Judá 
beneficiou-se enormemente da destruição do reino do norte. Jerusalém 
cresceu rapidamente e cidades como Lachish, que servia de passagem antes
 de chegar a Jerusalém, foram fortificadas. Era o momento de Judá tomar a
 frente dos hebreus. Para isso, precisaria de duas coisas: um rei forte e
 um arsenal ideológico capaz de convencer as tribos do norte de que Judá
 fora escolhida por Deus para unir os hebreus. Além disso, era preciso 
combater o politeísmo que voltava a crescer no norte.
Josias foi o candidato a assumir a 
posição de rei unificador. Durante uma reforma no Templo de Jerusalém, 
em seu governo, foi “encontrado” (na verdade, não há dúvidas de que o 
livro foi colocado ali de propósito) o livro Deuteronômio, com todos os 
ingredientes para um ampla reforma social e religiosa. O livro possui 
até profecias que afirmam, por exemplo, que um rei chamado Josias, da 
casa de David, seria escolhido por Deus para salvar os hebreus. Ungido 
pelo relato do livro, o ardiloso Josias consegue seu objetivo de 
centralizar o poder, mas acaba morto em batalha. Judá revolta-se contra 
os assírios e o rei da Assíria, Senaqueribe, invade a região, destruindo
 Lachish e submetendo Jerusalém. A destruição de Lachish, narrada com 
riqueza de detalhes na Bíblia, também aparece num relevo encontrado em 
Nínive, a antiga capital assíria. E as escavações comprovaram que a 
Bíblia e o relevo são fiéis ao acontecido. Ou seja: nesse caso, a 
arqueologia provou que a Torá foi fiel aos fatos.
Jesus
Segundo o Novo Testamento, Jesus nasceu 
em Belém, uma cidadezinha localizada oito quilômetros ao sul de 
Jerusalém, filho do carpinteiro José e de uma jovem chamada Maria, que o
 concebeu sem macular sua virgindade. Os evangelhos de Lucas e Mateus 
afirmam que Jesus nasceu “perto do fim do reino de Herodes”. O texto de 
Lucas afirma que a anunciação aconteceu em Nazaré, onde José e Maria 
viviam, mas eles foram obrigados a viajar até Belém pelo censo “ordenado
 quando Quirino era governador da Síria”.
Hoje, o que se sabe de concreto sobre 
Jesus é que ele nasceu na Palestina, provavelmente no ano 6 a.C., ao 
final do reinado de Herodes Antibas (que acabou em 4 a.C.). A diferença 
entre o nascimento real de Jesus e o ano zero do calendário cristão se 
deve a um erro de cálculo. No século VI, quando a Igreja resolveu 
reformular o calendário, o monge incumbido de fazer os cálculos cometeu 
um erro. Além disso, é praticamente certo que Jesus nasceu em Nazaré e 
não em Belém. A explicação que o texto de Lucas dá para a viagem de 
Jesus até Belém seria falsa. Os registros romanos mostram que Quirino 
(aquele que teria feito o censo que obrigou a viagem a Belém) só assumiu
 no ano 6 d.C. – 12 anos depois do ano de nascimento de Jesus. A 
história da viagem a Belém foi criada porque a tradição judaica 
considerava essa cidade o berço do rei David – e o messias deveria ser 
da linhagem do primeiro rei dos judeus.
A concepção imaculada de Maria é um dos 
dogmas mais rígidos da Igreja, mas nem sempre foi um consenso entre os 
cristãos. Alguns textos apócrifos dos séculos II e III sugerem que Jesus
 é fruto de uma relação de Maria com um soldado romano. A menina Maria 
teria 12 anos quando concebeu Jesus. Na rígida tradição judaica, uma 
mulher que engravidasse assim poderia ser condenada à morte por 
apedrejamento. O velho carpinteiro José, provavelmente querendo poupar a
 menina, casou-se com ela e escondeu sua gravidez até o nascimento do 
bebê. A data de 25 de dezembro não está na Bíblia. É uma criação também 
do século VI, quando o calendário foi alterado.
A Bíblia afirma que Jesus teve duas 
irmãs e quatro irmãos: Tiago, Judas, José e Simão. Mas não se sabe se 
esses eram filhos de Maria ou de um primeiro casamento de José. Muitos 
teólogos afirmam que eles eram, na verdade, primos de Jesus – em 
aramaico, irmão e primo são a mesma palavra. A Bíblia não fala quase 
nada sobre a infância e a adolescência de Jesus, com exceção de uma 
passagem em que, aos 12 anos, numa visita ao Templo de Jerusalém durante
 a Páscoa, seus pais o encontram discutindo teologia com os sábios nas 
escadarias do templo do monte. É quase certo, porém, que ele cresceu em 
Nazaré.
Jesus falava certamente o aramaico, a 
língua corrente da Palestina e, provavelmente, entendia o hebreu por ter
 tomado lições na sinagoga e por ler a Torá. Os evangelhos apócrifos o 
pintam como um menino Jesus travesso, capaz de dar vida a figuras de 
barro para impressionar os colegas e até mesmo a fulminar um menino que 
esbarrou em seu ombro, para ressuscitá-lo logo em seguida, depois de 
tomar uma bronca do pai.
Certamente José procurou iniciá-lo na 
arte da carpintaria e é provável que Jesus tenha trabalhado como 
carpinteiro durante um bom tempo. Oportunidade não lhe faltou. 
Escavações recentes revelaram que ao mesmo tempo em que Jesus crescia em
 Nazaré, bem próximo era construída a monumental cidade de Séfores, 
idealizada por Herodes Antibas para ser a capital da Galiléia. Séfores 
estava a uma hora a pé de Nazaré e é muito provável que José e Jesus 
tenham trabalhado ali. Em Séfores Jesus teria visto a passagem da 
família real de Herodes Antibas e a opulência das famílias de sacerdotes
 do Templo de Jerusalém. O fato de Jesus ter passado boa parte da sua 
vida ao lado de Séfores indicaria que ele não era um camponês rústico 
como já se pensou, mas tinha contato com a cultura do mundo helênico.
Aos 30 anos, Jesus se fez batizar por 
João Batista nas margens do rio Jordão. Segundo a Bíblia, durante o 
batismo João reconhece Jesus como o messias. Há registros históricos da 
existência de João Batista e, recentemente, arqueólogos encontraram 
entre o monte Nebo e Jericó, nas margens do rio Jordão, ruínas de um 
antigo local de peregrinação por volta do século III d.C.
Decidido a cumprir sua missão na terra, 
Jesus dirigiu-se então para a Galiléia, onde recrutou seus primeiros 
discípulos entre os pescadores do lago Tiberíades. Passou a viver com 
seus primeiros seguidores em Cafarnaum, cidade de pescadores próxima do 
lago de Tiberíades. Por dois anos Jesus pregou pela Galiléia, Judéia e 
em Jerusalém, proferindo sermões e contando parábolas. Segundo a Bíblia,
 realizou 31 milagres, incluindo 17 curas e seis exorcismos. Alguns dos 
mais famosos são a ressurreição de Lázaro, a transformação de água em 
vinho e a multiplicação dos peixes.
Cafarnaum, onde Jesus teria vivido com 
seus discípulos, era um povoado de cerca de 1 500 moradores naquela 
época. Escavações encontraram os restos da casa de um dos discípulos, 
provavelmente de Simão Pedro (hoje conhecido como São Pedro), além de um
 barco datado da mesma época da passagem de Cristo pelo lugar. Não há, 
porém, certeza quanto ao número de discípulos que viviam próximos de 
Jesus. Nos evangelhos, apenas os oito primeiros conferem – os quatro 
últimos têm muitas variações. A hipótese mais provável é que o número 
“redondo” de 12 discípulos foi uma invenção posterior para espelhar, no 
Novo Testamento, as 12 tribos dos hebreus descritas no Velho Testamento.
Depois de viajar por quase toda a 
Palestina, Jesus parte para cumprir seu destino – ou, segundo alguns 
especialistas, seu plano. Durante a semana da Páscoa, o principal evento
 religioso do calendário judeu, Jesus entra em Jerusalém montado num 
burro e atravessando a Porta Maravilhosa. Esse foi, certamente, um ato 
deliberado de provocação aos sacerdotes do Templo e à elite judaica. 
Jesus faz exatamente o que o profeta Zacarias afirmava na Torá que o 
messias faria ao chegar. Jesus estava mandando uma mensagem de 
provocação aos sacerdotes do Templo. No segundo dia da Páscoa, Jesus vai
 ao Templo e ataca os mercadores e cambistas raivosamente.
Na quinta-feira, percebendo que o cerco 
apertava, os apóstolos celebram com Jesus a última ceia. A imagem que 
ficou dessa cena, gravada por Da Vinci e outros pintores, nada tem de 
verdadeiro. Os judeus comiam deitados de flanco, como os romanos, e as 
mesas eram ordenadas em formato de U e não dispostas numa linha reta. 
Durante a ceia, Judas levanta-se para trair seu mestre – ou, como alguns
 sugerem, para cumprir uma ordem dada pelo próprio Jesus. A captura 
acontece no Jardim do Getsêmani, onde Jesus e seus discípulos 
descansavam no caminho para Betânia, onde ficariam hospedados.
Levado para o Sinédrio, o Conselho dos 
Sacerdotes do Templo, Jesus reafirma sua missão divina e é condenado. 
Existem provas da denúncia de Caifás a Pilatos. Estudiosos judeus 
afirmam, porém, que o julgamento perante o Sinédrio jamais ocorreu 
porque o Sinédrio não se reunia durante a Páscoa. Essa versão teria sido
 incluída tardiamente na Bíblia após a ruptura definitiva entre cristãos
 e judeus. Jesus foi morto pelos romanos porque era considerado um 
agitador político.
Na manhã de sexta-feira, na residência 
do prefeito Pôncio Pilatos, Jesus é condenado à morte. Ele atravessa as 
ruas de Jerusalém carregando sua própria cruz e é crucificado entre dois
 ladrões. O caminho que Jesus percorreu nada tem a ver com a Via Crúcis 
visitada pelos turistas hoje. Ela é uma criação do século XIV, quando a 
cidade esteve nas mãos dos cavaleiros cruzados. A maioria dos 
historiadores e arqueólogos concorda, porém, que o morro do Calvário 
(Gólgota), localizado ao lado de uma pedreira, foi realmente o lugar da 
crucificação. Concordam também que seu corpo tenha sido colocado numa 
das grutas próximas. O que aconteceu então depende da fé de cada um. Há 
varias versões: que Jesus teria sobrevivido ao martírio, que outra 
pessoa teria morrido em seu lugar, que seu corpo teria sido roubado ou, 
claro, que ele teria ressuscitado.
Jerusalém
Quando Jesus atravessou a Porta 
Maravilhosa em seu burrico, Jerusalém era a maior cidade do Império 
Romano entre Damasco (atual capital da Síria) e Alexandria (no Egito), 
com uma população estimada em torno de 80 000 moradores. Durante a 
semana da Páscoa, porém, o número de peregrinos na cidade ultrapassava 
100 000, o que dá uma idéia do clima de agitação vivido na cidade: 
carros de boi dividiam as ruas estreitas com os pedestres e havia um 
grande vaivém de animais sendo trazidos para o sacrifício durante as 
festividades.
Conquistada pelos romanos em 63 a.C., 
Jerusalém estava no auge do seu esplendor arquitetônico. Onde quer que 
chegasse seu império, os romanos faziam questão de introduzir seu estilo
 arquitetônico em obras como estradas, palácios, anfiteatros e 
hipódromos. Em 31 a.C., os romanos haviam colocado o judeu Herodes 
Antibas como governador da Palestina. Sua principal obra foi a 
construção do Templo de Jerusalém, cujo tamanho e riqueza foram pensados
 para rivalizar com o templo salomônico descrito na Torá. As obras 
haviam terminado no ano 10 a.C. – quatro anos antes do nascimento de 
Jesus.
A cidade era dividida entre as partes 
alta e baixa. Na alta, escavações recentes mostraram que a elite da 
cidade tinha uma vida requintada. As casas tinham normalmente dois 
andares, e eram construídas ao redor de um pátio pavimentado de pedra. 
Havia piscinas privadas para os rituais de purificação. Os pisos eram 
cobertos por mosaicos e as paredes, por afrescos com cenas campestres. 
Também foram encontrados copos de vidro finamente trabalhados e frascos 
de perfume.
A riqueza da elite judaica era 
alimentada pela cobrança de taxas dos peregrinos. Para as convicções 
rígidas de Jesus sobre riqueza e ostentação, era inadmissível o estilo 
de vida dos sacerdotes e do rei judeu Herodes, que aceitavam e se 
beneficiavam com a dominação dos pagãos romanos. Não é possível afirmar 
que Jesus estava decidido a morrer crucificado naquela semana de Páscoa,
 mas há elementos para admitir que ele havia decidido ir até as últimas 
conseqüências para denunciar a situação. O resultado todos nós sabemos.
Paulo
No ano 36 d.C., vivia na Antióquia 
(Turquia) um judeu helenizado chamado Paulo de Tarso. Além de cidadão 
romano, era também um soldado do imperador, cuja função era perseguir 
cristãos. Mas, em 36 d.C., Paulo converteu-se à fé cristã, segundo ele 
depois que Jesus lhe apareceu milagrosamente. A partir de então, Paulo 
se transformaria no mais decidido e incansável apóstolo do Cristianismo.
A principal preocupação de Paulo era 
converter os gentios (os não-judeus) espalhados pelo império. Em 16 
anos, fez quatro grandes viagens por Grécia, Ásia, Síria e Roma. Foi o 
primeiro a escrever sobre o Cristianismo nas 14 cartas que enviou às 
comunidades cristãs que havia fundado. Paulo achava que a mensagem de 
Cristo não podia ficar confinada na Palestina.
Em Jerusalém, porém, os judeus cristãos,
 liderados pelo irmão de Jesus, Tiago, estavam voltando às origens 
judaicas. Se não fosse por Paulo, é bem provável que o Cristianismo 
acabasse por ser reassimilado pelo Judaísmo, extinguindo-se. Para 
resolver suas divergências, provavelmente em 49 d.C., houve o primeiro 
concílio da igreja cristã em Jerusalém. Pela primeira vez enfrentaram-se
 Paulo e os seguidores sobreviventes de Jesus.
Ali começou a ser edificado o 
Cristianismo atual. Paulo lutou contra a circuncisão obrigatória para os
 convertidos – algo que certamente afastaria muitos homens gentios. E 
defendeu a revogação das leis e prescrições judaicas em favor dos 
preceitos simples de Cristo. Sua opinião prevaleceu principalmente 
porque o apóstolo Pedro convenceu-se de que ele estava certo.
Em 59 d.C., Paulo foi novamente 
convocado a se explicar e, no debate que se seguiu, obrigado, pela ala 
judaica, a adorar o Templo de Jerusalém como demonstração de fé. Durante
 a visita, foi identificado e preso e, em 60 d.C., deportado para Roma –
 onde ficou em prisão domiciliar. Em 64 d.C., quando Nero mandou 
perseguir os cristãos, Pedro e Paulo acabaram presos e condenados à 
morte. Pedro foi crucificado e Paulo, por ser cidadão romano, teve o 
privilégio de ser decapitado.
Em 70 d.C., durante uma revolta dos 
judeus contra a dominação romana, Tito destruiu Jerusalém e seu templo, 
obrigando os judeus a fugir da Palestina. O desaparecimento dos que se 
opunham à visão universalizante que Paulo tinha do Cristianismo abriu 
caminho para sua visão da fé. O centro de gravidade do Cristianismo 
deslocou-se para Roma, que, em poucos séculos, passaria a ser o centro 
da cristandade.
Uma bela história. Seja a da versão 
bíblica oficial, a apócrifa ou a que a ciência hoje propõe como a que 
tem mais chances de ser verdadeira.
O que se sabe com certeza é que Jesus 
foi um judeu sectário e um agitador político que ameaçava levantar dois 
milhões de judeus da Palestina contra o exército de ocupação romano. 
Tudo o mais que se diz dele necessita da fé para ser considerado verdade
A libertação do Egito
O que diz a Bíblia – No Êxodo, Deus 
escolhe Moisés como libertador do povo hebreu, envia as Dez Pragas e 
divide as águas do Mar Vermelho. No Monte Sinai, já a caminho da Terra 
Prometida, Moisés recebe as tábuas dos Dez Mandamentos.
O que diz a Arqueologia – Não há 
qualquer registro da existência de Moisés ou dos fatos descritos no 
Êxodo. Aliás, boa parte dos reinos e locais citados na sua jornada 
também não existiam no século XIII a.C. e só surgiriam 500 anos depois. A
 escolha do lugar que passou a ser conhecido como Monte Sinai ocorreu 
entre os séculos IV e VI d.C. por monges bizantinos.
O Dilúvio universal
O que diz a Bíblia – Segundo o Gênesis, 
um grande dilúvio destruiu a Terra. Noé e sua família, avisados, 
construíram uma arca para salvar um casal de cada espécie animal.
O que diz a Arqueologia – Ruínas achadas
 no Mar Negro, próximo da Turquia, mostram que houve uma enchente 
catastrófica por volta de 5600 a.C. O nível do Mar Mediterrâneo subiu e 
irrompeu pelo Estreito de Bósforo, inundando a planície onde hoje está 
localizado o Mar Negro. Na época, a região era uma planície de terras 
férteis, com um lago. Sobreviventes dessa catástrofe migraram para a 
Mesopotâmia. Assim teria surgido a história do dilúvio no texto sumério 
de Gilgamesh. Os hebreus conheceram a história quando estiveram cativos 
na Babilônia.
A conquista de Canaã
O que diz a Bíblia – Depois da 
libertação do Egito, Moisés conduziu os hebreus até a entrada da Terra 
Prometida. Ali, os israelitas enfrentam os nativos canaanitas com uma 
ajuda divina: ao toque de suas trombetas, as muralhas de Jericó desabam 
miraculosamente.
O que diz a Arqueologia – Jericó nem 
tinha muralhas nesse período. Na verdade, a tomada de Canaã pelos 
hebreus acontece de forma gradual, quando as tribos hebraicas trocam o 
pastoreio pela agricultura dos vales férteis. A história da conquista 
foi escrita durante o século VII d.C., mais de 500 anos depois da 
chegada dos hebreus aos vales cananeus.
A saga do rei David
O que diz a Bíblia – Após derrotar 
Golias, David firma-se como rei dos hebreus, submetendo primeiro a tribo
 de Judá e, posteriormente, todas as 11 tribos israelitas.
O que diz a Arqueologia – Em 1993 foi 
encontrada uma pedra de basalto datada do século IX a.C. com escritos 
que mencionam a existência de um rei hebreu chamado David. Mas não há 
qualquer evidência das conquistas de David narradas na Bíblia. David 
pode ter sido o líder de um grupo de rebeldes vindos de camadas pobres 
dos cananeus que, nessa época, atacava as cidades do sul da Palestina.
A guerra assíria
O que diz a Bíblia – Por volta de 700 
a.C., o rei Ezequias, de Judá, revolta-se contra os assírios. Judá é 
atacada e a cidade de Lachish é completamente destruída.
O que diz a Arqueologia – Os fatos são 
narrados com precisão histórica. Achados arqueológicos permitiram 
reconstruir o cenário da batalha descrita na Bíblia. Além disso, a 
destruição de Lachish pelos assírios foi expressa num relevo em Nínive, a
 capital assíria, e as imagens batem com a narrativa bíblica.
Império de Salomão
O que diz a Bíblia – Salomão sucedeu a 
seu pai, David, fez alianças com reinos vizinhos e construiu o Templo de
 Jerusalém. Em seu reinado, os israelitas alcançaram opulência e poder. 
Salomão construiu palácios e fortalezas em Jerusalém, Megiddo, Hazon e 
Gezer.
O que diz a Arqueologia – Não há sinal 
de arquitetura monumental em Jerusalém ou em qualquer das outras cidades
 citadas. Tudo leva a crer que Salomão, como David, eram apenas pequenos
 líderes tribais de Judá, um Estado pobre e politicamente inexpressivo.
As dez pragas que Deus teria enviado
 para salvar os judeus da escravidão no Egito podem ser um eco 
fantasiado de uma catástrofe ecológica que realmente aconteceu no Egito.
 Veja abaixo quais são as pestes e como a ciência explica cada uma 
delas.
1. As águas do Nilo se tingem de sangue
Uma mudança climática repentina esquenta
 a água do Nilo e provoca a reprodução descontrolada de Pfiesteria, uma 
alga que provoca hemorragias nos peixes, matando-os e intoxicando as 
águas com sangue.
2. Rãs cobrem a terra
A intoxicação das águas faz rãs e sapos fugirem, espalhando-se por toda a região.
3. Mosquitos atormentam homens e animais
A morte dos sapos produz uma superpopulação de insetos, inclusive do terrível maruim, um pequeno mosquito de picada dolorida.
4. Moscas escurecem o ar e atacam homens e animais
Outro tipo de inseto, a mosca dos estábulos, transforma-se em praga, atacando todo tipo de mamífero que encontra.
5. Uma peste atinge os animais
A peste eqüina africana e a peste da língua azul são doenças transmitidas pelo maruim e que atingem mamíferos.
6. Pústulas cobrem homens e animais
O mormo, uma doença eqüina que também ataca o homem, é transmitida pela mosca dos estábulos. Ela produz úlceras na pele.
7. Chuva de granizo destrói plantações
O granizo pode cair nas regiões desérticas do Mediterrâneo, embora seja um fenômeno relativamente raro.
8. Nuvem de gafanhotos ataca plantações
Os gafanhotos também são uma praga conhecida na região.
9. Escuridão encobre o Sol por três dias
Uma tempestade de areia pode durar dias e é capaz de encobrir completamente a luz do Sol.
10. Os primogênitos de homens e animais morrem
Cereais guardados em celeiros ainda 
úmidos podem desenvolver um bolor altamente tóxico. Como no Egito antigo
 os primogênitos (tanto humanos quanto dos animais) tinham a precedência
 na alimentação, em tempos de escassez eles foram os primeiros a ser 
fatalmente intoxicados pelo bolor.
A vida ao redor do templo
A Jerusalém que Jesus conheceu estava em
 seu auge de poder e beleza. Conquistada pelos romanos, em 63 a.C, a 
cidade passou por uma completa reformulação, que incluiu a construção de
 arenas, hipódromo, palácios e, principalmente, o impressionante templo 
erguido por Herodes Antibas, que Jesus visitou quando criança e poucos 
dias antes da sua morte. Dessa obra gigantesca restam, hoje, apenas um 
muro, que os judeus modernos chamam de Muro das Lamentações. Jesus foi 
muito provavelmente crucificado no Monte Calvário, como narra a Bíblia. 
Mas o percurso conhecido hoje como Via Crúcis não tem nada de histórico:
 foi inventado no século XIII pelos cavaleiros cruzados.
Pescador de homens
O que diz a Bíblia – Depois de ser 
batizado por João Batista e sofrer as tentações no deserto, Jesus foi 
para a Galiléia, onde recrutou seus primeiros discípulos entre os 
pescadores do lago Tiberíades. Escolheu viver com seus seguidores em 
Cafarnaum, uma pequena vila de pescadores.
O que diz a Arqueologia – Cafarnaum 
existiu e era um povoado com cerca de 1 500 moradores na época em que 
Jesus viveu. Escavações encontraram os restos de uma casa que pode ter 
sido de um dos discípulos, provavelmente de Simão Pedro, o primeiro a 
ser recrutado por Jesus.
Infância desconhecida
O que diz a Bíblia – Não há quase nada 
sobre a infância e a adolescência de Jesus, com exceção de uma passagem 
em que, aos 12 anos, numa visita ao Templo de Jerusalém durante a 
Páscoa, seus pais o encontram discutindo teologia com os sábios nas 
escadarias do templo de Jerusalém.
O que diz a Arqueologia – Escavações 
recentes revelaram que, ao mesmo tempo em que Jesus crescia em Nazaré, 
bem próximo era construída a monumental cidade de Séfores, idealizada 
pelo rei hebreu Herodes Antibas para ser a capital da Galiléia. Séfores 
estava a uma hora a pé de Nazaré e é muito provável que José e Jesus 
tenham trabalhado como carpinteiros em sua construção. Em Séfores, Jesus
 teria visto a família real, a opulência das famílias dos sacerdotes do 
Templo de Jerusalém e, provavelmente, teve contato com a cultura dos 
hebreus helenizados.