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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

REFÉM DO MEDO!

Família de PM que matou mulher e filha na Grande BH se sente “refém do medo”

Seis meses após o crime, adolescente baleada pelo pai tenta retomar a vida

PM está preso, mas negou o crime à Polícia Civil (Reprodução/Record Minas)
— Nós somos reféns do medo. Por um milagre, ele não fez uma chacina dentro daquela casa.
As palavras de Rodrigo Ferreira revelam o fardo que carregará por toda vida. Seis meses depois da tragédia que se instalou em sua família, ele tenta levar uma "vida tranquila". Mas o assassinato cruel de sua irmã pelo marido, um policial militar, ainda assombra seus dias.
A dificuldade em andar é uma lembrança constante do tiro que atingiu o estômago e se alojou na coluna da filha de 16 anos do PM, sobrevivente do atentado do dia 10 de junho deste ano. Irritado com uma conta de telefone alta demais, o cabo Marco Antônio Alves matou a filha de 13 anos, Raíssa Alves de Lima, e a esposa, Rosângela Alves de Lima, de 40 anos, dentro de casa, a tiros, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Segundo Ferreira, a jovem que sobreviveu está pronta para começar a fisioterapia e deixar o "fantasma" de seu pai para trás. Parentes a encorajam a investir no talento com a estética e escolher uma profissão. A menina baleada, recentemente, contou ao tio como foi o crime e revelou que se a PM não tivesse chegado ao local a tempo, "ele iria acabar de matar ela".
A adolescente e outras duas filhas do casal, de oito e 12 anos, estão matriculadas em um colégio na Grande BH, onde se dedicam aos estudos. A mais revoltada, segundo Ferreira, é a de 12 anos, que diz não querer ver o pai "nunca mais".
— A gente faz o possível para tirar delas esse passado de sofrimento, de medo, de violência. Elas estão se dedicando muito à escola, foram muito bem amparadas. Hoje, a única coisa que têm é a oportunidade de estudar para construir valores. O que aconteceu só nos trouxe a responsabilidade maior de ser mais tio, mais pai.
Mas como o próprio Rodrigo disse, "depois de uma tragédia dessa, não tem como retomar uma vida normal". O medo é uma constante na vida da família, que sempre foi unida e reforçou os laços nesses últimos meses.
— A gente tem esse receio de que ele possa voltar para acabar de matar. Toda vida ele foi uma pessoa violenta, com a capacidade tal de dar cabo naqueles que cruzam o caminho dele, que incomodam. Ele é perigoso, já tinha ameaçado minha sobrinha. Ele falou: "Eu vou jogar ela fora".
O cabo foi visto pela última vez pela família em uma audiência na Justiça, em outubro deste ano, sobre a guarda das garotas. Ele apareceu escoltado por policiais e algemado. A avó ganhou o direito definitivo de criar as netas.
A cogitação de Marco Antônio Alves ser solto e voltar a ameaçar as filhas assusta a todos, que não querem saber de seu paradeiro. Ferreira conta que o cunhado sempre manteve uma relação de dominação com a mulher e as crianças e ficava incomodado quando ela se impunha ou se mostrava independente.
O histórico violento do PM justifica a preocupação. Ele agredia a mulher constantemente e, uma semana antes de assassiná-la, avisou por telefone que mataria a filha. Além disso, Alves tem cinco filhos envolvidos no tráfico de drogas da Pedreira Prado Lopes, na região noroeste da capital mineira.
— Ele é igual galo de rinha, sempre marcando território. Não é uma pessoa preocupada com bem-estar da família. Já tinha colocado arma de fogo na minha cabeça, do enteado, da mulher. Não demorou muito.

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