O arquiteto Roberto Moita recebeu a espinhosa missão, como presidente do Instituto Muncipal de Planejamento Urbano (Implurb) de 
planejar uma cidade cheia de grandes problemas
 e deixá-la mais humana. Moita foca sua gestão em buscar soluções para 
quatro enormes disfunções urbanas características de Manaus: ocupar os 
vazios urbanos, dar fluidez às calçadas, centro histórico maltratado e 
mobilidade urbana. Ele conclama as pessoas para que resgatem a sensação 
de pertencimento e acredita que uma cidade só existe se ela for querida,
 se tiver o cuidado coletivo, exercido pelas pessoas.
Com uma série de problemas acumulados, o caos e a desordem instalados como cultura, como o Sr. recebe a cidade de Manaus?
Manaus
 tem um acúmulo histórico de passivos, o que se constata claramente. São
 passivos históricos urbanísticos, as disfunções da cidade. A primeira e
 mais dramática disfunção é que temos uma cidade espalhada, de baixa 
densidade populacional. Isso é muito grave porque aumenta todo o custo 
de gestão urbana. Todos os serviços urbanos, do transporte público, às 
vias, coleta de lixo, à distribuição de energia, iluminação pública, 
redes de água, de telefonia, tudo fica mais caro com uma cidade 
espalhada. Manaus tem um alto custo para manter os serviços urbanos, em 
função da baixa densidade. Isso é dramático e exige medidas que se 
estendem a longo prazo, a partir de um modelo de crescimento para 
dentro. Essa é a prioridade 001. É preciso discutir e pactuar com a 
sociedade como vamos fazer esse crescimento, ocupando vazios urbanos, 
que são gigantescos, aumentando a densidade urbana em certas áreas 
estudadas, que comportam isso, e ampliando o sistema viário para dentro.
 Manaus tem grandes vazios, áreas não percebíveis pela população e não 
usufruídas. Tem muito verde, mas não é verde público, não são parques, 
praças, são vazios urbanos.
Além desses vazios, o que mais incomoda ao olhar a cidade?
Uma
 segunda grande disfunção é uma relação complexa e muito mal resolvida 
entre o público e o privado, começando pelas calçadas. A coisa mais 
prosaica que está na frente da casa de todo mundo, de onde todos 
trabalham. Eu até provoco: a calçada é pública ou privada? Está muito 
claro que é pública, o nome é passeio público como espaço urbano. Só que
 ela está numa interface, numa fronteira entre o universo privado, de 
lotes, casas, propriedades, prédios, fábricas, lojas, escritórios, e a 
rua, que essa ninguém tem dúvida de que é pública. As calçadas são uma 
grande confusão de não conformidade, porque existem normas técnicas para
 se fazer passeios.
E o Centro histórico de Manaus, qual é o diagnóstico após a transição?
É
 um problema muito grave, uma terceira disfunção. Temos um Centro que 
desde a inauguração do Polo Industrial da Zona Franca até hoje, 50 anos,
 passou por um grave processo de desqualificação. Ali tem uma mancha 
histórica importante do ponto de vista urbanístico, um conjunto onde se 
falam de 1.600 prédios históricos na área central, que caracterizam todo
 um legado especialmente daquela cidade antes da ZFM, que se construiu 
no período da borracha. Mas ali também está o espaço urbano mais bem 
resolvido da capital. Tem um equilíbrio entre ruas, lotes, parques, 
praças. O Centro da cidade é uma pérola muito maltratada, pelo tempo, 
onde a cidade não foi planejada. Um tempo onde as grandes disfunções 
foram se tornando mais graves e mais difíceis de reverter. Todas as 
cidades cuidam do seu berço histórico com grande atenção. Porque o 
Centro é um símbolo. Até um pouco tempo atrás, em Manaus, era onde 
estava o poder. Nos 50 anos, num primeiro momento, teve uma intensa 
atividade comercial com o comércio da Zona Franca, que promoveu certa 
descaracterização do bairro. Depois houve um segundo momento, em que 
houve um esvaziamento, moradores foram migrando de lá, poderes foram 
migrando de lá, Legislativo, Executivo e Justiça foram embora. Tem quase
 uma orfandade do Centro, do ponto de vista de forças que o defendem, 
que zelam por ele. Depois, a área passou por uma crise de pertencimento e
 simultaneamente viveu uma pauperrização. Também houve uma migração do 
comércio de maior valor agregado, com o fenômeno dos centros de bairros e
 shoppings. No Centro ficou um comércio para camadas sociais mais 
baixas, ao mesmo tempo houve o fenômeno do comércio ambulante, que 
aumentou a desqualificação. Ao invés de um ciclo virtuoso, teve um ciclo
 vicioso, em ondas, que nos últimos 15 anos só piorou.
Como melhorar o presente de Manaus e pensar no futuro?
A
 agenda de partida para começar a enfrentar os problemas, por firme 
determinação do prefeito Artur Neto e do seu vice Hissa Abrahão, é de 
erguer as estruturas de planejamento urbano de Manaus. O Brasil tem 
eleição a cada dois anos, e isso encurta os horizontes das ações 
públicas, com ciclos muito miúdos. O planejamento urbano é a ferramenta 
que a cidade, a sociedade, tem para estabelecer agendas consensuais e 
ações, onde o Poder Público tem um papel, o setor empresarial tem um 
papel, o cidadão comum tem um papel. Enfim, cada um tem um papel e 
precisa se estabelecer sinergia entre todos. Você estabelece ações que 
precisam atravessar os horizontes dos calendários políticos-eleitorais, 
porque se não for assim não se enfrenta os problemas urbanos. Queremos 
criar, de fato, um serviço público de planejamento urbano para Manaus. A
 cidade é complexa, precisa de ações sistêmicas, ações coordenadas, que 
tenham visão de curto, médio e longo prazo. Esse é o grande desafio: 
implementar metodologias, processos de gestão pública dentro do Implurb,
 com diálogos com as demais secretarias. A boa gestão é impessoal, 
planta processos de trabalho que podem ser seguidos por anos e por 
outras pessoas.
Quais serão os primeiros passos nesse rumo? Há pontos estratégicos onde vão agir primeiro?
Elegemos
 determinadas bases territoriais. A extensão geográfica da cidade é 
muito grande. Se quisermos atuar em problemas tópicos de forma isolada, 
na cidade inteira, não vamos fazer acontecer. Adotamos ações pioneiras 
que caracterizamos de “Centro estendido”, área que vai do porto de 
Manaus ao Amazonas Shopping, da Paraíba a Constantino Nery. E sobre esse
 Centro vamos buscar ensaiar essas ações, por exemplo, na área de 
calçadas, organização de estacionamento, ordenamento de áreas públicas, 
desocupação, iluminação pública, trabalhos em curto prazo. Em relação ao
 planejamento propriamente dito, vamos começar a montar um Plano 
Estratégico de Desenvolvimento Urbano de Manaus. O Implurb tem dois 
lados, controle e ordenamento urbano, e planejamento. Duas áreas fins, 
duas missões complementares entre si, mas distintas. O controle urbano 
trata de licenciamentos de obra, de novas vias, de condomínios. 
Ordenamento é a fiscalização de construções, de áreas públicas, praças. 
Nossa ambição é fazer um Plano Estratégico que lance as bases de uma 
grande reforma urbana. Será trabalhado ao longo do tempo, estudando 
métodos e reunindo equipes, para que os primeiros frutos sejam 
apresentados ainda em 2013. E cuidar das ações de 2013, iniciais, que 
são essenciais, no centro desse Plano Estratégico, porque lança bases 
além do tempo, pensando do geral para o particular, para que os atos 
tópicos façam sentido dentro de objetivos maiores que pretendemos 
atingir. Dentro dos problemas priorizados, vamos atacar fortemente, 
porque são mais palpáveis, os processos de desocupação dos passeios 
públicos e áreas públicas, e a intervenção no Centro. Para os passeios, 
vamos desenvolver, em pequenas áreas, e depois ir espalhando para 
outras. Centro é prioridade da administração do Artur e Hissa, inclusive
 foi criada uma Secretaria Extraordinária de Requalificação do Centro. E
 essa secretaria trabalha em sinergia com o Implurb.
Manaus,
 por exemplo,  calçadas ocupadas por bancas e até postes de iluminação 
próximos à paradas de ônibus, que obriga o usuário a ir para o meio da 
rua. Como resolver isso, por exemplo?
Em
 muitos locais teremos que reposicionar as paradas de ônibus para 
eliminar problemas como obstáculos no meio do caminho. Tem que ter 
sinergia com os gestores do transporte público. Nas calçadas, talvez 
Manaus reúna o maior número de não conformidades que é possível à raça 
humana criar para um único espaço. Em cada quadra que você andar 
encontra uma diversidade absurda de não conformidades. A não 
conformidade é a falta de continuidade do passeio público. A legislação 
tem normas para cuidar disso, estabelecendo a necessidade de 
continuidade do passeio, do uso de materiais que não permitam 
escorregar, não pode ter buraco, não pode ter mureta, degrau. Isso é o 
que mais acontece na cidade. Sem falar nos obstáculos, é lixeira, placa,
 os próprios postes, sinalização. Tem esquinas onde se identificam 5 ou 6
 postes juntos, um do semáforo, outro da iluminação, outro da lixeira, 
outro de placa de sinalização de esquina, outro de “proibido dobrar à 
direita”. Você poderia ter um poste multifuncional, que reunisse isso 
tudo, mas é preciso investimento. São ideias a implementar.
E a Copa do Mundo? Faltam 18 meses e há muita chuva a vir por aí...
A
 Copa do Mundo é uma belíssima oportunidade para a cidade. Se for olhar 
várias experiências internacionais de grandes eventos esportivos, ou 
culturais, desde as feiras universais, que legaram a Paris a Torre 
Eiffel, até experiências mais recentes, como Sevilha, que teve uma 
exposição universal, Barcelona, que recebeu os jogos olímpicos, cidades 
da Ásia, que tiveram os jogos asiáticos, são oportunidades de construir 
legados e aproveitar o momento. A mudança é natural do ser humano. 
Quando se vai receber uma visita, se pinta a casa, arruma o jardim, 
conserta o chuveiro que estava quebrado faz tempo. Isso é do ser humano,
 quando vai receber quer melhorar. Também precisamos retomar 
urgentemente o orgulho de ser Copa do Mundo, ser sede da Copa. Manaus 
vai receber mais de 100 mil pessoas do mundo inteiro. Precisamos ver o 
que é possível fazer em 18 meses, pelo Estado e a Prefeitura, com um 
único verão e dois invernos. O timing de fazer obras de maior porte em 
Manaus é no verão. Essas 100 mil pessoas que vierem, se tiverem uma boa 
impressão, vão falar para 200 mil; se tiverem impressão ruim, vão falar 
para 500 mil. É do ser humano falar mais do que viu de errado do que viu
 de bom. Essa é a nossa grande chance de se promover como destino, lugar
 do Planeta que se pode tomar contato com a Floresta Amazônica. É uma 
grande bandeira. A Copa permite ainda reunir pessoas em torno de um 
objetivo único. Criar uma convergência com data. Isso é muito raro de 
acontecer em governos. O que é normal nas obras de governo é que elas 
atrasam, é difícil quando se entrega na data certa.
E como arrumar a casa em tão curto tempo, já que Manaus, assim como outras subsedes, já perderam o timing?
Tem
 uma coisa que estamos chamando de “Corredores da Copa”, que é arrumar 
as grandes ruas da cidade, especialmente aquelas por onde se faz 
articulação com hotéis, Ponta Negra, aeroporto, Centro, Arena da 
Amazônia. É possível fazer neste tempo. Para isso, é preciso fazer 
desocupação das calçadas e reorganização urbana. Por isso o eixo 
prioritário da avenida Djalma Batista é um ensaio de “Corredores da 
Copa”, entre Boulevard e Amazonas Shopping. Serão as primeiras ações nos
 passeios públicos. Iniciamos as primeiras notificações e tratativas, 
começando pelas grandes empresas, para se ajustarem, entre elas 
telefonia, bancos, cartórios, estacionamentos. Começamos pelas pessoas 
jurídicas que são mais sensíveis a isso, que até operam em outras 
cidades e que entendem que atender a regra é importante para a 
coletividade. Aí vão entrar programas de arborização urbana, de 
sinalização de trânsito, turística e direcional, sinalização das ruas, 
melhoria de iluminação pública, revalorização de praças e parques que 
estão ao longo desses corredores. E tem a reestruturação da Ponta Negra,
 que será o “funpark” de Manaus, decisão tomada em consenso pela 
Prefeitura e Governo. Lá será necessário fazer sinalização bilíngue, ter
 banheiros de público e espaços para estacionamento. É uma estrutura à 
altura do que será o símbolo da cidade. Ao longo das transmissões da 
Copa, os “funparks” entram e têm a chamada deles, como lugares onde a 
população, que não está na Arena, se reúne para assistir aos jogos. E a 
Ponta Negra é um belíssimo símbolo de Manaus.
E por falar em Ponta Negra, como anda a segunda etapa das obras?
Os
 projetos estão definidos e, possivelmente, deverá se resolver ao longo 
de 2013. Incluindo a questão da praia. O Implurb é o gestor da Ponta 
Negra. Vamos iniciar tratativas com diversos órgãos e o Ministério 
Público para criar um plano de gestão do Parque da Ponta Negra, 
incluindo a praia. Com isso, teremos definidas as normas gerais de uso, 
modelo de gestão, manutenção, o que é permitido e o que não é, 
reorganização dos espaços comerciais e a utilização da praia, que passou
 pela polêmica de segurança em razão das mortes registradas após a 
liberação da primeira fase da obra.
Falamos
 muito de pontos centrais da capital, mas e as zonas mais afastadas, 
como a Zona Leste? Qual é o plano para essas regiões?
A
 Zona Leste tem grande potencial. É muito adensada de pessoas, mas tem 
carências estruturais, de praças, de espaços públicos de cultura e 
esportivos. Na medida dos limites de investimentos da Prefeitura, 
queremos buscar estratégias para oferecer um balneário naquela área, ao 
espelho da Ponta Negra, um espaço de lazer e acesso ao rio Negro. Tem 
vários locais com potencial para abrigar um parque à beira rio, como o 
Puraquequara, Remanso do Boto, e vários terrenos. É preciso desenvolver 
projetos e buscar fontes de financiamentos.
Uma
 das promessas de campanha do prefeito eleito foi cuidar com carinho dos
 camelôs. Qual será o papel do Implurb para essa mudança socioeconômica e
 urbana prometida para o Centro? 
A
 fundamental discussão para o Centro é uma política de gestão de 
micronegócios. Parar de falar do camelô como inimigo da cidade, e passar
 a entender ele como trabalhador que se consolidou naquela área central.
 E que de fato tem micronegócios, famílias que se sustentam daquilo. 
Compromisso da gestão do Artur é entender essa geografia humana, da 
necessidade de sensibilização e diálogo. O Implurb cuidará disso. O que 
estamos estudando, com vários debates, tema de várias secretarias – a do
 Centro, do Implurb, Seminf, de Feiras, Empreendedorismo, de Transporte –
 é a gestão articulada para montar o Plano Específico de Requalificação 
do Centro, contemplando os micronegócios, hoje os camelôs.
Tem algum desafio encontrado durante a transição que o instituto lançará para a cidade?
O
 desafio colocado no relatório de transição é o de abrir janelas para o 
rio. No plano macro de desenvolvimento estratégico, um dos componentes é
 a orla. Como espaço urbano tem enorme potencial para muitos usos e 
experiências internacionais mostram a força disso, para criar ancoragem 
de turismo, espaços de lazer público à população, pontos de contato, de 
uso com a água, como balneários. Nossa orla hoje é o inverso disso tudo,
 ela é toda ocupada por atividades como o Exército Brasileiro, na Ponta 
Negra, de portos, formais e informais, até estaleiros. É uma orla 
ocupada por atividades econômicas pragmáticas, tem tudo, tem até 
indústria e já teve siderúrgica, a Siderama. É preciso reverter esse 
espaço, símbolo importante, porque o rio Negro é um rio de força, pelo 
volume de água, por extensão do espelho, balneabilidade, pelas águas 
ácidas, mais amenas do que as águas do Solimões. Existe uma previsão do 
Plano Diretor atual que é abrir um novo eixo Leste-Oeste ao longo da 
orla, saindo do São Raimundo em direção à Ponta Negra, utilizando parte 
de áreas públicas. Vamos estudar como tornar isso viável.
E como seria possível construir esse novo cenário, já que Manaus viveu sempre de costas para o rio?
Será
 preciso, por exemplo, dialogar com a Secretaria do Patrimônio da União e
 o Exército Brasileiro sobre essa área. E em consonância com eles, que 
preservaram aquela área. Se eles não estivessem ali, talvez fosse uma 
grande favela. A história de nossa urbanização é toda de ocupação 
precarizada. O Exército é uma parte importante da elite inteligente, com
 grandes cidadãos, que entendem os problemas das cidades. Já houve em 
outros lugares negociações da municipalidade com o Exército, para cruzar
 vias, melhorar a circulação urbana. Vejo aí um campo fértil de diálogo.
 E aí se abre um grande potencial de desenvolvimento imobiliário, de 
oferta de lazer público, de acessibilidade e criação de parques e praias
 no rio Negro. O foco particular foi na orla Oeste porque tem um 
potencial grande. Mas a orla Leste também tem potencial, mas no caminho 
estão o Distrito, a Base Aérea, o Amarelinho e o Educandos. Mas é 
possível manejar na direção Leste e ter uma via costeira em Manaus, para
 se ter mais contato com o rio Negro. Hoje temos poucas janelas, o 
Amarelinho, um pedaço central da Manaus Moderna, um porto caótico, e a 
Ponta Negra. Fora isso só pequenas vizinhanças, sem coletividade, sem 
acessibilidade pública. Defendemos que o rio Negro seja uma grande 
borda, na sua verdadeira dimensão. Nos falta isso, reverter essa cidade 
de costas para o rio. É quase um chavão. No nosso planejamento isso será
 contemplado de forma intensa, com investimentos, com chamamento público
 das instituições, iniciativa privada, para interagir e tocar as 
janelas.
Como o Implurb vai agir?
No
 planejamento urbano atribuímos à comunicação social um papel de 
dinâmica do diálogo com a população, por meio das mídias. Papel 
fundamental de convencimento, de educação mesmo para a urbanidade. 
Defendo que todas as ações do Implurb, de ordenamento, de fiscalização, 
de controle, aquelas que não são agradáveis, por contrariar grandes e 
pequenos interesses, sejam precedidas de campanhas públicas que 
esclareçam as pessoas o porquê do que está sendo feito. Que não se trata
 de perseguição, como se fala no jargão político, a “A” ou “B”, mas da 
necessidade de mudar a cidade como um todo. A ideia de uma grande 
reforma urbana exige que todos se engajem, e para isso haverá intensa 
comunicação.
OUTROS DESTAQUES: 
MELHORIA NA QUALIDADE DA CIDADE
As
 cidades são grandes legados da civilização humana. Juntam pessoas, 
negócios, objetivos, as cidades são ilhas de sinergia da raça humana. O 
homem é um ser gregário por natureza. As cidades foram o ápice dessa 
vida gregária. E essa sinergia humana de estar junto, de fazer negócios,
 compartilhar experiências, de fazer trocas econômicas, culturais, de 
vida, dão muita força para a cidade. É comprovado historicamente. Elas 
são em si as soluções para os seus problemas. Precisam que essas forças 
sejam mobilizadas, compreensão e diagnóstico sobre os problemas, como se
 criam, se mantêm, se estruturam, para conseguir desatar os nós e 
encontrar os caminhos. Manaus é uma cidade muito dinâmica, com forças 
vivas de qualidade, belíssima tradição de business, tem um Polo 
Industrial importante, tem um setor comercial pujante, um setor 
imobiliário pujante, todo um processo cada vez maior de qualificação de 
mão de obra, uma cidade também de serviços, ampliando os níveis de 
educação superior.
São condições para
 as mudanças que precisam acontecer ao longo dos próximos anos. A 
melhoria da qualidade nas cidades não é um processo que acaba, nunca 
acaba. O ideal é pensar a história das cidades.
Podemos
 pegar cidades como Londres, Paris ou Nova York, cidades que já tive 
oportunidade de visitar e estudar. Viveram sempre ciclos virtuosos 
outros mais problemáticos, e a gestão dos problemas acontece no tempo 
histórico. Londres passou por uma grande disfunção na margem Sul do 
Tamisa, área degradada, isso nos anos 90. Já era uma grande cidade.
Curitiba colheu nos últimos 15 anos o que plantou nos anos 70. Aí está a importância do planejamento urbano.
RUAS
Planos
 de aumentar oferta das ruas e ampliar a plataforma com intervenções, 
desapropriações. Precisamos ter mais eixos norte-sul, leste-oeste. A 
relação entre o número de carros e a área física das ruas de Manaus é 
péssima. E a má notícia é que nem temos uma grande população de carros.
ESTRATÉGIA DE CIDADANIA
A
 cidade tem uma subcidadania. São vários pequenos gestos que demonstram 
que a população não exerce uma relação produtiva com a cidade, no 
sentido do dia a dia. Como se percebe isso? Na falta de pertencimento. A
 cidade parece que não tem o carinho das pessoas. Cada um faz o uso dela
 da maneira como melhor lhe convém. E não se submetendo ao coletivo, ao 
interesse das outras pessoas. É como se houvesse uma disputa permanente 
de território, por isso as calçadas são tão maltratadas. Estão neste 
limbo público-privado.
CICLOVIAS
Implurb,
 Manaustrans e SMTU. A bicicleta, além da dimensão do lazer, tem o papel
 importante de sustentabilidade, incentivar mecanismos de mobilidade 
urbana. Vê dificuldade de implementar em eixos exclusivos.
Fazer
 levantamento de onde existem rotas de uso hoje. Avaliar demandas atuais
 e a possibilidade de ofertando equipamento, aumentar a oferta, aumentar
 o número de pessoas que aderem à ciclovia. Especialmente no interior 
dos bairros, a experiência europeia demonstra que em vias de velocidade 
média e baixa, o uso compartilhado é o mais inteligente. Em Paris você 
não vê faixas marcadas de ciclovias. Os modais dividem as ruas. Em 
Amsterdã também dividem, você tem carro, tem o bonde, o pedestre e a 
bicicleta, com regras de uso que são respeitadas entre eles.
Entra
 a necessidade de continuar educação no transito. Brasil avançou muito 
nisso. Exemplo são as faixas vermelhas, que ninguém imaginou que 
funcionaria, e deu certo. Foi uma aposta legal. Demonstra que estamos 
mais preparados a aderir às boas práticas de convivência e urbanidade, 
do que nós mesmos acreditávamos. Aposta da administração anterior.
MOBILIDADE URBANA
Acrescentaria
 um outro problema muito sério, a universalização do transporte 
individual. É um fenômeno brasileiro, recente, mas em Manaus toma 
proporções dramáticas porque o transporte coletivo não consegue atrair a
 maior parte da população. A mobilidade urbana é muito ruim. 
Cientificamente, a cidade é um universo múltiplo de problemas, mas tem 
os problemas centrais, que são de natureza cultural, conceitual, que são
 eixos, que precisa ter discernimento. Na hora de dar resposta, de dar 
solução para os problemas, precisa ter discernimento, analítico, porque é
 a partir dos problemas centrais que os outros estão se desatando. Pode 
falar de muitos outros problemas, tem falta de lazer público e urbano, 
insuficiência do sistema viário, falta de parques, de áreas verdes 
consolidadas, de porte, que pudesse apontar para uma oferta de verde 
público, falta de arborização, certa desertificação da cidade, que na 
linha dos Trópicos é dramático. São problemas resultantes dos centrais. 
Existe hierarquização nessas coisas e é aí que a ciência do urbanismo 
faz diferença, saber ler o que é causa e efeito, o que é gerador e eixo 
estruturador da dinâmica da vida urbana e o que é resultante disso tudo.
PLANO DE MOBILIDADE
O
 plano de mobilidade é fundamental para estruturar a cidade a longo 
prazo. Aí entra a agenda de investimento, que antes estava na matriz da 
Copa do Mundo, hoje está no PAC da Mobilidade, investimentos da 
Prefeitura e Governo em BRT e Monotrilho. Foi uma necessidade de tirar 
do horizonte da Copa porque perdeu-se o tempo, não há mais tempo. Muitas
 cidades perderam tempo. Manaus perdeu tempo precioso de dar partida 
nesse processo há dois anos, quando trocou de governo e estava no meio 
da Prefeitura municipal. Teve entraves burocráticos, demandas do 
Ministério Público Federal, demandas do Iphan, foi ficando sem solução, 
especialmente a questão do Monotrilho. Foi uma necessidade de gestor, 
porque não adianta dizer que até a Copa do Mundo daria tempo de fazer. E
 é importante tomar a decisão administrativa de cada um dos gestores. 
Governo de implentar o Monotrilho, e a Prefeitura já tomou a decisão do 
BRT. É consenso do prefeito e de todos os técnicos ouvidos. Tomada a 
decisão, será necessário definir um plano de obras.
Ainda
 vai se debruçar sobre o BRT com o SMTU e a Manaustrans, e de 
Infraestrutura. BRT sai do Centro para Zona Leste, Monotrilho é eixo 
Norte-Sul. Traçado poderá ser ajustado, reduzir as desapropriações, que 
custam caro e podem emperrar a obra. Diminuir impacto sobre 
desapropriações.
FRASE
“Temos
 que resgatar a sensação de pertencimento. Uma cidade só existe se ela 
for querida, se tiver o cuidado coletivo, exercido pelas pessoas”