Empresários da noite falam sobre pedidos de propina de até R$ 200 mil
COMENTÁRIO: POR ESSE TIPO DE ATITUDE QUE MUITOS JOVENS PERDERAM A VIDA EM BOATE NO RIO GRANDE DO SUL, "SANTA MARIA" AGENTE DE FISCALIZAÇÃO PREFEREM OBTER ALGUMAS MIGALHAS DE COURO DE RATOS "DINHEIROS", PARA DEIXAR CORRER FROUXOS OS AMBIENTES IRREGULARES COMO;BARES,BOATES,LANCHONETES,ETC. ISSO VEM DESDE DOS SECULOS PASSADOS SÓ MUDAM DE ROUPAGEM, MAS AÇÃO É VELHA,(PROPINA).
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), revelou nesta semana o 
emaranhado que envolve o funcionamento de casas noturnas paulistanas.
A 
sãopaulo ouviu 25 empresários da noite para entender o motivo 
de tantos clubes atuarem fora da lei. Eles relatam morosidade no 
andamento dos processos, excesso de normas e pedidos de propina de até 
R$ 200 mil.
A prefeitura reconhece que a emissão da licença é complexa e lenta. A 
princípio, segundo decreto municipal, a casa deveria ser inaugurada após
 receber o alvará. Porém, como o processo pode se estender por anos, 
acaba abrindo só com o protocolo do pedido.
A manobra é vetada pelo mesmo decreto. Mas, como a prefeitura não dá 
conta de analisar todos os processos em tempo hábil, faz vista grossa.
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 | Beatriz Toledo - 13.jun.08/Folhapress | 
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| Club Ice, em Santana, na zona norte da cidade, ficou embargado durante dois anos antes de ser inaugurado | 
A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) confirma que, 
na prática, as casas funcionam sem o alvará. Para Percival Maricato, 
diretor jurídico da seção paulista da entidade, a dificuldade para 
obtê-lo é comum a todos os estabelecimentos que lidam com grande 
público. "A lei é complexa. Há corrupção."
Soma-se a isso a falta de estrutura do governo. "O problema equivale ao 
do Judiciário: há pouca gente para analisar muitos processos", diz Edwin
 Britto, da Comissão de Direito Urbanístico da seção paulista da OAB 
(Ordem dos Advogados do Brasil).
Para Flávia Ceccato, 41, dona da Hot Hot, na região central, a licença 
dos Bombeiros é rápida. "Mas, quando você dá entrada com a papelada na 
prefeitura, ela fica lá para sempre."
"Quem consegue abrir uma balada e ter alvará é um herói", diz Cláudio 
Santana, o Medusa, 41, sócio do Alberta #3 e do Astronete, ambos no 
centro.
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"[Depois
 da tragédia,] de certa forma eu me senti culpado só por ter o mesmo 
ofício", Facundo Guerra, 39, dono de casas como Lions, Cine Joia e Yatch
 
CAMINHO DA PROPINA
Um dono de boate na zona leste, que pediu para não ser identificado, 
acusa a prefeitura de dificultar o processo, o que resultaria na suposta
 máfia do alvará. "Tem muita gente que compra a autorização e paga caro 
por isso", diz ele, cuja casa funciona há quatro anos sem licença.
Empresários que pediram anonimato relatam que o pagamento de propina 
para acelerar o processo na prefeitura varia de R$ 20 mil a R$ 200 mil. A
 máfia, de acordo com eles, envolve engenheiros responsáveis por laudos,
 consultores de projetos e ainda funcionários públicos.
"Sem eles, é impossível conseguir um alvará mesmo que a casa esteja com 
tudo certo", diz um dos entrevistados. Segundo outro, um engenheiro 
disse que o pagamento de R$ 20 mil seria assim dividido: R$ 5.000 para 
ele e R$ 15 mil para funcionários da prefeitura. Além disso, ainda 
existiria um esquema de propina para, depois, manter as casas longe da 
fiscalização.
Na quinta-feira passada, ao ser questionado em entrevista coletiva sobre
 a corrupção de fiscais, o prefeito Fernando Haddad pediu que denúncias 
sejam encaminhadas à Controladoria Geral do Município. "Chegou uma 
denúncia a ordem é apurar."
Outra queixa recorrente é a falta de orientação da prefeitura. "Tivemos 
de procurar no Google uma empresa que pudesse nos orientar", diz Dago 
Donato, 37, sócio da Neu, na zona oeste.
Sidney Guerra, 43, o Magal, trabalha há 20 anos na noite e acredita que 
os problemas são maiores quando um imóvel tem de ser adaptado para 
abrigar uma casa noturna. Ele comanda o Club Ice, na zona norte, 
construído a partir das regras definidas por lei. Mesmo assim, o local 
ficou dois anos embargado antes de abrir, em 2008.
Para Bernard Fuldauer, presidente da Aprofisc (Associação dos 
Profissionais de Fiscalização do Estado de São Paulo), há brechas na lei
 que levam às irregularidades. "A pessoa protocola o pedido e apresenta 
um projeto de adequação da segurança. Eu, fiscal, não posso multar. 
Enquanto isso, está funcionando. E se pega fogo?"
A Abrasel estima que haja 2.000 casas noturnas na cidade, além de 13 mil
 restaurantes e 15 mil bares. Segundo o Ministério Público, 60% das 
baladas funcionam de forma irregular. A prefeitura diz que 600 clubes 
estão hoje na fila por um alvará.
Para a fiscalização, o Contru (Departamento de Controle do Uso de 
Imóveis) conta com 95 técnicos e as 31 subprefeituras, 700 agentes.
Após o incêndio no Sul, Haddad anunciou a intenção de emitir os alvarás 
em até 90 dias. Com medo da fiscalização, casas noturnas fecharam suas 
portas na última semana.