 
- PM está preso, mas negou o crime à Polícia Civil (Reprodução/Record Minas)
— Nós somos reféns do medo. Por um milagre, ele não fez uma chacina dentro daquela casa.
As palavras de Rodrigo Ferreira revelam o fardo que carregará por toda vida. 
Seis meses depois da tragédia que se instalou em sua família,
 ele tenta levar uma "vida tranquila". Mas o assassinato cruel de sua 
irmã pelo marido, um policial militar, ainda assombra seus dias.
A dificuldade em andar é uma lembrança constante do tiro que atingiu o
 estômago e se alojou na coluna da filha de 16 anos do PM, sobrevivente 
do atentado do dia 10 de junho deste ano. Irritado com uma conta de 
telefone alta demais,
 o cabo Marco Antônio Alves matou
 a filha de 13 anos, Raíssa Alves de Lima, e a esposa, Rosângela Alves 
de Lima, de 40 anos, dentro de casa, a tiros, em Ribeirão das Neves, na 
região metropolitana de Belo Horizonte.
Segundo Ferreira, a jovem que sobreviveu está pronta para começar a 
fisioterapia e deixar o "fantasma" de seu pai para trás. Parentes a 
encorajam a investir no talento com a estética e escolher uma profissão.
 A menina baleada, recentemente, contou ao tio como foi o crime e 
revelou que se a PM não tivesse chegado ao local a tempo, "ele iria 
acabar de matar ela".
A adolescente e outras duas filhas do casal, de oito e 12 anos, estão
 matriculadas em um colégio na Grande BH, onde se dedicam aos estudos. A
 mais revoltada, segundo Ferreira, é a de 12 anos, que diz não querer 
ver o pai "nunca mais".
— A gente faz o possível para tirar delas esse passado de sofrimento,
 de medo, de violência. Elas estão se dedicando muito à escola, foram 
muito bem amparadas. Hoje, a única coisa que têm é a oportunidade de 
estudar para construir valores. O que aconteceu só nos trouxe a 
responsabilidade maior de ser mais tio, mais pai.
Mas como o próprio Rodrigo disse, "depois de uma tragédia dessa, não 
tem como retomar uma vida normal". O medo é uma constante na vida da 
família, que sempre foi unida e reforçou os laços nesses últimos meses.
— A gente tem esse receio de que ele possa voltar para acabar de 
matar. Toda vida ele foi uma pessoa violenta, com a capacidade tal de 
dar cabo naqueles que cruzam o caminho dele, que incomodam. Ele é 
perigoso, já tinha ameaçado minha sobrinha. Ele falou: "Eu vou jogar ela
 fora".
O cabo foi visto pela última vez pela família em uma audiência na 
Justiça, em outubro deste ano, sobre a guarda das garotas. Ele apareceu 
escoltado por policiais e algemado. A avó ganhou o direito definitivo de
 criar as netas.
A cogitação de Marco Antônio Alves ser solto e voltar a ameaçar as 
filhas assusta a todos, que não querem saber de seu paradeiro. Ferreira 
conta que o cunhado sempre manteve uma relação de dominação com a mulher
 e as crianças e ficava incomodado quando ela se impunha ou se mostrava 
independente.
O histórico violento do PM justifica a preocupação. Ele agredia a 
mulher constantemente e, uma semana antes de assassiná-la, avisou por 
telefone que mataria a filha. Além disso, Alves tem cinco filhos 
envolvidos no tráfico de drogas da Pedreira Prado Lopes, na região 
noroeste da capital mineira.
— Ele é igual galo de rinha, sempre marcando território. Não é uma 
pessoa preocupada com bem-estar da família. Já tinha colocado arma de 
fogo na minha cabeça, do enteado, da mulher. Não demorou muito.