Entenda quando os gastos excessivos precisam de tratamento
Desorganização financeira pode estar ligada a doenças psicológicas
As compras e gastos
exagerados podem ocorrer por causa da deficiência no planejamento
financeiro ou por doença mental. É comum nos consultórios de
profissionais de saúde pacientes com sofrimentos pessoais e familiares
relacionados ao endividamento, ou mesmo inclusão do nome em serviços de
proteção ao crédito. O tratamento ou apoio psicológico é importante para
que essa pessoa enfrente adequadamente suas questões pessoais,
prevenindo novas fases de desgaste psíquico e a negociação exaustiva com
instituições de crédito.
Felizmente, para a maioria
absoluta dos casos de indivíduos com comportamento de gastos exagerados,
a causa do problema é a falta de educação financeira voltada para o uso
racional e planejado do dinheiro recebido, seja por remuneração,
rendimentos financeiros, doação ou herança. Nesses casos, o melhor a
fazer é encaminhar o paciente para uma escola ou profissional que atue
com educação financeira pessoal, ou então para departamentos de
instituições financeiras que apresentem apoio para este perfil de
clientes. Quando o problema é orientação e a pessoa se dispõe a
pesquisar e aprender com profissionais qualificados no tema, os
resultados costumam ser rápidos, permanentes e efetivos.
No entanto, os gastos exagerados podem estar relacionados a doenças mentais, como ansiedade, depressão, transtorno bipolar
e compra compulsiva ou impulsiva. Logicamente, essa é uma condição mais
difícil de ser tratada, mas não impossível, sendo importante o apoio
familiar e a atuação profissional adequada, tanto de educadores
financeiros como de psiquiatras e psicólogos. Entenda as relações mais
comuns entre compra compulsiva e outras doenças e quais as formas de
tratamento:
Dependência química
A dependência química de substâncias lícitas como o álcool ou
de drogas ilícitas como cocaína e crack pode resultar em dificuldades
funcionais que levam a perdas financeiras graves - isso porque um dos
critérios da dependência é a dificuldade de controle das finanças e do
uso das substâncias. Não é incomum também situações nas quais a pessoa
com problemas relacionados a dinheiro inicie um vício para aliviar a
angústia, piorando ainda mais o problema. A boa notícia é que neste caso
há possibilidade de tratamento profissional com equipes
multiprofissionais, constituídas por psicólogos, psiquiatras e outros
profissionais.
Transtorno bipolar
Outro problema que pode
repercutir nos gastos é o transtorno afetivo bipolar, pois o portador
deste distúrbio comporta-se com exageros variados sem condições de
controle pelo bom senso, incluindo compras exageradas de mercadorias e
serviços sem utilidade ou então a aquisição de várias unidades do mesmo
produto. Neste caso, o descontrole tende a ser restrito a fase aguda da
doença, que é periódica e pode ser tratada adequadamente com
medicamentos ou internação, dependendo da gravidade.
Viciados em jogo
O caso dos jogadores
compulsivos é um grande desafio, porque apesar de gastarem muito tempo e
dinheiro com jogos mesmo diante de grandes perdas, é comum a
insistência nas apostas em função da idéia distorcida e persistente que
em breve ele irá recuperar tudo. Nesses casos, são frequentes os relatos
em que todos os bens da família foram perdidos ou colocados como
garantia de empréstimos. Esse quadro psíquico também possui tratamento,
apesar de geralmente existir muita dificuldade do indivíduo em se
aceitar doente e procurar ajuda psiquiátrica. Muitas vezes as
repercussões da justiça levam a necessidade de procura do médico
psiquiatra forense para esclarecer as relações entre o adoecimento
mental e as repercussões financeiras de endividamento.
Compra compulsiva
Outro sofrimento psíquico
que tem como característica principal o gasto exagerado com repercussões
em várias esferas da vida é a compra compulsiva. Nesse caso há um
conjunto de critérios diagnósticos, ainda sem causa claramente
estabelecida, que leva aos procedimentos de aquisição de serviços e bens
repetidamente, sem necessidade real e sem planejamento financeiro.
Mesmo sem tratamento específico, há um conjunto de estratégias
terapêuticas usadas por psicólogos e psiquiatras para conter este
problema com bons resultados, desde que haja adesão do paciente e apoio
permanente da família.
Quando procurar ajuda?
Embora a maioria das pessoas
com comprometimento da vida financeira não sofra de doença psíquica,
mas sim da falta de orientação financeira, é importante procurar um
psicólogo ou psiquiatra sempre que os gastos excessivos estiverem
atrapalhando o andamento da vida pessoal. Para os casos de adoecimento
mental, existem grupos de apoio, como Alcoólicos Anônimos e Jogadores
Compulsivos Anônimos. No entanto, ainda sim é importante o tratamento
também com profissionais de saúde. Em casos mais graves a correção do
comportamento é mais demorada, com necessidade de vários profissionais
de saúde, ou pelo menos do psiquiatra e do psicólogo.
É importante frisar que para
qualquer tipo de gasto inadequado e causador de danos pessoais e
familiares há possibilidades reais de reversão, desde que haja humildade
e permissão do indivíduo para a busca adequada de tratamento. Quando se
tratam de gastos excessivos com repercussões financeiras e judiciais,
fica pertinente ao juiz nomear peritos como psiquiatras e psicólogos
forenses, ou então aos advogados das partes envolvidas contratarem
assistentes técnicos psiquiatras e psicólogos forenses, para melhor
avaliar a relação entre a sanidade mental do indivíduo e as repercussões
judiciais. Quando a prova técnica mostra que o endividamento foi uma
consequência de prejuízo da saúde mental, é mais fácil negociar uma
solução entre endividado e credor ou vendedor, que não considerou o
adoecimento do comprador ou indivíduo que contraiu empréstimos.